Na próxima sexta-feira, 25, Lula da Silva inicia em Luanda mais uma visita oficial, agora a convite de João Lourenço. Na agenda consta o regresso das linhas de crédito, a cooperação agropecuária e a assinatura de novos acordos ao nível da defesa e segurança.
A visita oficial de Lula da Silva, Presidente do Brasil, a Angola acontece nos próximos dias 25 e 26, depois de cerca de 12 anos sem encontros de alto nível. O hiato tem algum significado político, sobretudo do lado brasileiro. Quais são as expectativas para esta visita, o que vai estar realmente em cima da mesa? Foi difícil convencer o Presidente Lula da Silva a regressar a Luanda?
Não, absolutamente, não foi nada trabalhoso. O Presidente Lula da Silva tem vindo a actuar no resgate da diplomacia presidencial brasileira. Ele tem consciência e desejo de trabalhar com os parceiros importantes do Brasil, em visitar e estar com os chefes de estado prioritários. Angola é um país prioritário para o Brasil e para a nova política externa do governo. Temos a grande alegria de ter a sua primeira visita bilateral a África a chegar por Angola.
Esse facto tem mesmo alguma relevância política ou é apenas uma coincidência na agenda dos dois países?
Sou um pouco suspeito para falar porque sou o embaixador do Brasil em Angola e prezo muito a densidade desta parceria estratégia. Mas, independentemente disso, eu entendo que Angola é sim o parceiro mais relevante do Brasil no continente africano, pelas raízes históricas, densidade dos investimentos, do comércio, das relações económicas, culturais, de cooperação consular, técnica, científica. No continente africano, Angola destaca-se em todas as dimensões da agenda diplomática bilateral. Todas essas razões justificam o facto de o Presidente Lula ter aceitado o convite para visitar Angola.
Nos últimos anos aconteceu um certo desligamento entre as duas partes, nesse período o Brasil também assumiu uma postura quase anti-história ao nível das relações internacionais. Que impacto teve a presidência de Jair Bolsonaro nas relações entre Angola e o Brasil?
As relações do Brasil com Angola são históricas, tradicionais, institucionais, são relações de Estado conduzidas com muito interesse pelas chancelarias dos dois países. O nosso património de cooperação com África é muito forte, em particular com Angola. O resgate das conversas de alto nível é muito importante nas relações diplomáticas onde existe uma parceria estratégica que foi, aliás, lançada por Lula.
Quais são os efeitos concretos dos diálogos de alto nível?
É algo muito importante porque permitem o lançamento de novos mandatos, a introdução de novas acções. Permitem também o resgate de acções que estavam dormentes na agenda bilateral. E permitem ainda criar uma estratégia de relação bilateral para os anos vindouros, em função das directrizes do novo governo. O Presidente Lula desenhou uma política externa brasileira assente na cooperação Sul-Sul.
Depois de o Brasil ter emprestado cerca de 4 mil milhões USD entre 2000 e 2016, Angola deseja ter acesso a novas linhas de crédito, mas os casos judiciais que envolveram o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) colocaram um novo foco sobre o tema, sobretudo no seio da opinião pública. Estão a ser negociados novos financiamentos bilaterais?
O desenvolvimento económico e social do Brasil não pode avançar sem trabalharmos ou colaborarmos para que todos os nossos parceiros importantes, mas especialmente os prioritários, também avancem e se desenvolvam económica e socialmente. Esse talvez seja um grande traço que diferencia a nova política – não podemos trabalhar isoladamente.
Mas não respondeu à questão: estão na calha novos projectos em Angola com recursos do BNDES?
O governo brasileiro tem noção que os mecanismos de financiamento são importantes instrumentos para viabilizar as acções económicas e comerciais e de cooperação, porque as condições de acesso são menos demoradas, mais desburocratizadas, mantendo as regras de compliance. Ao mesmo tempo que geram progresso nos países que recebem o financiamento, geram também renda, emprego, procura por serviços e expansão da actividade económica no Brasil. É uma relação de mão dupla, que funciona muito bem e funcionou muito bem com Angola, o país que mais recebeu créditos do BNDES.
Que foram integralmente pagos. A dívida de Angola com o Brasil é residual, neste momento.
Todos pagos, portanto, o Presidente Lula já expressou a sua visão sobre a cooperação Sul-Sul e sobre as acções de fomento, que devem ser acompanhadas por mecanismos de financiamento. O que existe no Brasil é um debate com a área económica sobre como aperfeiçoar esses mecanismos.
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