O Presidente Ibrahim Boubacar Keïta surpreendeu tudo e todos, incluindo muitos dos seus principais aliados, ao confirmar, na quinta-feira, a escolha para Primeiro-Ministro do economista Boubou Cissé, que assim sucede a Soumeylou Boubèye Maïga, que se demitiu no início da semana, arrastando consigo todo o Governo.

O Mali está a braços com graves problemas de segurança, provocados pelas violentas rivalidades étnicas e pelo recrudescimento da acção de diferentes grupos rebeldes.

Com 45 anos de idade, Boubou Cissé é um reputado economista mas um perfeito desconhecedor dos meandros da segurança e, logo à partida, terá enormes dificuldades para lidar com a classe militar, fustigada por severas críticas mas sem os meios necessários ao seu dispor para garantir a segurança interna do país face ao aumento da acção dos rebeldes.

Nascido na cidade de Bamako, o novo Primeiro-Ministro do Mali era membro do anterior Governo, onde desempenhava as funções de ministro da Economia e Finanças, mas teve uma anterior passagem pelo Executivo, entre 2013 e 2014 onde foi titular do Ministério da Indústria e Minas.

Tratam-se de dois Ministérios que deixam perceber a sua pouca ligação com questões militares, uma lacuna bem gravada na memória de alguns parceiros ocidentais que ainda se lembram da sua nula participação nas discussões que decorreram durante uma visita de uma delegação maliana à sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, nomeadamente durante uma reunião mantida com o Conselho de Paz e Segurança daquela organização.

Opção por assessores

Os seus defensores, na sua maioria da classe empresarial e do mundo das finanças, dizem que um Primeiro-Ministro não precisa de ser especialista em todos os assuntos, bastando que se rodeie de peritos de diferentes áreas para que possa fazer uma gestão positiva da sua governação.

Os que o apoiam, recordam que se trata de uma pessoa íntegra e rigorosa que sempre trabalhou com espírito de grupo e rodeado de especialistas dos assuntos que ele não domina, como é caso agora das questões militares e de segurança.

O novo Primeiro-Ministro do Mali possui alguns contactos internacionais, adquiridos na altura em que integrou, como economista,os quadros do Banco Mundial, entre 2005 e 2013, logo antes de ser nomeado ministro da Indústria e Minas.

Uma das suas grandes vantagens é que não pertence a nenhum partido, sendo um independente que se assume pronto para dialogar com todas as forças sociais e políticas do país para encontrar consensos que resolvam os principais problemas do país. Porém, o seu grande problema é que a questão da insegurança militar é, de longe, aquela que mais preocupa os malianos.

Para fazer face a isso, Boubou Cissé precisa de dialogar com os militares, de ouvir as suas preocupações e de tentar encontrar soluções para os seus problemas de modo a que eles possam cumprir com êxito a sua missão.

A grande questão que agora se levanta é a de saber quem o novo Primeiro-Ministro vai escolher para fazer a ligação com os militares e até que ponto, por exemplo a França – principal aliado militar do Governo maliano – está disposta a trabalhar com o representante de uma pessoa que está demasiado afastada dos problemas relacionados com a segurança, sobretudo agora que os rebeldes parecem ter “renascido das cinzas” para prosseguir com os seus mortíferos ataques.

Também as Nações Unidas, que têm no Mali a sua mais dispendiosa missão de paz no mundo, terão um importante papel a desempenhar para que a surpresa na nomeação de Boubou Cissé não se transforme num verdadeiro e fatal fracasso.

Ainda ontem, uma pessoas morreu e várias outras ficaram feridas, algumas em estado grave, na sequência da explosão de um engenho no eixo Hombori-Gossi, no norte do país.
O acidente ocorreu quando um autocarro de transporte colectivo, a bordo do qual se encontravam as vítimas, passou por cima de um engenho explosivo, provavelmente uma mina, de acordo com fontes locais.

Segundo as fontes, a estrada Bamako-Gao é constantemente alvo de ataques com engenhos explosivos que, nos últimos anos, já fizeram várias dezenas de mortos, entre os quais civis e militares da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA).

Em Bamako, na terça-feira, dois soldados morreram e outros ficaram feridos quando o carro militar em que seguiam accionou uma mina.