Angola perdeu mais de 100 mil empregos formais no primeiro trimestre de 2025, um sinal preocupante da fragilidade do mercado de trabalho nacional.
De Dezembro de 2024 a Março deste ano, o número de trabalhadores com vínculo formal passou de 2.563.730 para 2.460.831, traduzindo-se numa queda líquida de 102.899 empregos — a maior retração registada nos últimos anos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Paralelamente, 335.178 empregos informais foram criados no mesmo período, evidenciando o crescimento do segmento de “biscates” e actividades sem protecção laboral ou segurança social. Esta tendência reforça o peso da economia informal, que hoje abrange 8 em cada 10 trabalhadores em Angola.
Taxa de desemprego caiu, mas com distorções
Apesar da destruição de postos formais, o INE indica que a taxa de desemprego recuou de 30,4% para 29,4%, o valor mais baixo desde o segundo trimestre de 2019. No entanto, especialistas questionam os critérios adoptados, que consideram “empregado” qualquer indivíduo que tenha realizado uma hora de trabalho nos sete dias anteriores ao inquérito, mesmo sem remuneração formal.
Além disso, 160.997 angolanos deixaram de ser classificados como desempregados e passaram a integrar a população inactiva, enquanto 159.346 pessoas saíram do mercado de trabalho por razões não especificadas, anulando o aparente ganho na redução do desemprego.
Mercado de trabalho fragilizado
O saldo líquido de emprego no trimestre foi positivo, com um aumento de 232.280 postos, graças ao crescimento da informalidade. Porém, a qualidade do emprego piorou significativamente.
Dos 18.154.714 angolanos em idade activa, apenas 12.814.558 têm algum tipo de ocupação laboral, sendo que a esmagadora maioria não tem acesso a segurança social, contrato escrito, protecção legal ou remuneração estável.
Esta realidade coloca desafios sérios à produtividade, arrecadação fiscal, inclusão social e à sustentabilidade económica do país.
Impactos da informalidade
A informalidade crónica em Angola tem efeitos profundos:
- Erosão da base fiscal: menos contribuições para os cofres do Estado;
- Precariedade laboral: ausência de benefícios, como férias, licença médica ou reforma;
- Distorções estatísticas: os números oficiais escondem a real dimensão do desemprego;
- Redução da confiança do investidor: falta de estabilidade no mercado de trabalho.
Caminho para a frente
Especialistas recomendam políticas públicas urgentes e coerentes, que combinem:
- Incentivos fiscais para pequenas empresas formalizarem-se;
- Formação profissional direccionada à empregabilidade;
- Revisão metodológica do INE para captar melhor a realidade do mercado;
- Reformas estruturais para dinamizar sectores com alto potencial de emprego produtivo.
EXPANSÃO