João Lourenço diz que o combate à corrupção que o seu governo iniciou é como mexer no “ninho do marimbondo”.
O Presidente angolano tem pressionado Portugal para obter ajuda na detecção da transferência de capitais que podem ser classificados como ilícitos.
Presidente de Angola, João Lourenço, quer a cooperação das autoridades portuguesas no processo de detecção de transferências de dinheiro ilícito para Portugal.
Durante a visita do primeiro-ministro, António Costa, a Angola, as duas partes abordaram o tema da dupla tributação, mas por trás desta questão está outra, bem mais profunda: as implicações legais resultantes de um processo de detecção de transferências efectuadas para Portugal que o actual governo angolano considera terem resultado na delapidação do erário público.
João Lourenço tem sido persistente nesta matéria, a qual poderia, em última análise, culminar na apreensão de propriedades e no acesso a contas bancárias de cidadãos angolanos. Esta possibilidade apresenta contornos intricados, sendo que as autoridades portuguesas precisariam de provas concretas de que o dinheiro usado em compra de propriedades ou depositado em bancos portugueses foi obtido de forma ilícita.
Questionado sobre o repatriamento de capitais ilicitamente transferidos para o exterior, e se esta sua medida não seria “brincar com o fogo”, João Lourenço recorreu também a uma figura de estilo para responder. “Tínhamos noção de que estávamos a mexer no ninho do marimbondo e que podíamos ser picados, já começámos a sentir as picadelas, mas isso não nos vai matar, não é por isso que vamos recuar, é preciso destruir o ninho do marimbondo”, sublinhou.
Uma decisão soberana
O chefe do Estado angolano foi particularmente enfático e usou o fogo da pergunta para voltar ao tema, recorrendo ao mesmo termo. “Ninguém pense que, por muitos recursos que tenha, de todo o tipo, consegue enfrentar os milhões que somos, portanto, não temos medo de brincar com o fogo, vamos continuar a brincar com ele, com a noção de que vamos mantê-lo sob controlo.”
O Presidente de angolano, que esta sexta-feira vai estar num fórum económico que se realiza no Porto, anunciou ontem ter convidado oficialmente o seu homólogo, Marcelo Rebelo de Sousa, a visitar Angola, o que deverá acontecer durante o próximo ano.