Savimbi: enterro conturbado – “agora” governo prefere falar com família

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O governo vai estabelecer contacto com a família de Jonas Savimbi para a entrega dos seus restos mortais, informou o ministro de estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Pedro Sebastião. Nesse momento as ossadas de Savimbi estão depositados numa unidade militar no Andulo.

Com esta medida, o Governo afasta do processo a direcção da UNITA, por entender que quer fazer aproveitamento político do entrega dos restos mortais de Savimbi.

Falando em conferência de imprensa, Pedro Sebastião declarou que as autoridades governamentais preferem dialogar directamente com a família de Savimbi, pelo facto de a mesma estar “profundamente interessada” num enterro sereno.

Entretanto, o governante disse haver um elemento perturbador neste processo que precisa de ser afastado e afirmou também que a direcção da UNITA desejava um funeral de Estado para Savimbi, à semelhança do general Arlindo Chenda Pena “Ben Ben”. Mas Pedro Sebastião reitera que o ex-líder da UNITA não terá funeral de Estado. E sublinha que a inumação (enterro) é uma prerrogativa da família.

Segundo o ministro de estado e chefe da Casa de Segurança, o Governo não tem interesse em manter sob sua custódia os restos mortais do fundador da UNITA.

“Temos sob nossa custódia os restos mortais há mais de 24 horas. Depois não venham dizer que já não têm a certeza de que são de Jonas Savimbi e tenhamos de fazer novo exercício de comprovação de ADN. Quanto mais cedo encerrar-se esse dossiê melhor”, vincou.

Por outro lado, Pedro Sebastião explicou que todos os aspectos inerentes às exéquias foram abordados atempadamente em sede da comissão criada para o efeito e com o conhecimento da família de Jonas Savimbi.

Unita escreve ao PR sobre a situação do enterro

Face ao avolumar de tensão neste processo entre a direcção da UNITA e o governo, o presidente Isaías Samakuva enviou uma missiva ao Presidente da República, João Lourenço. O conteúdo da mesma não foi revelado. No entanto presumi-se ser a manifestação da indignação do partido com o que está a suceder.

Entretanto, também os filhos de Jonas Savimbi vieram a terreiro posicionar-se. Estes afirmam estarem ao lado da UNITA neste processo e recusam-se a alimentar a tentativa do ministro de Estado de separar uma parte da outra. Para a família de Savimbi não faz sentido, quer em termos históricos, social, política nem da tradição familiar, separar questões de Jonas Savimbi do partido Unita.

Recorde-se que, na terça-feira, Pedro Sebastião fez saber que o que estava combinado era proceder à entrega dos restos mortais de Savimbi no Andulo, para onde a urna seguiu a partir do Luena, no Moxico. No entanto o presidente da UNITA, Isaías Samakuva e a restante comitiva, incluindo os jornalistas escolhidos pelo partido, e os familiares de Jonas Savimbi, se deslocaram para o aeroporto do Kuito, onde aguardaram pela urna o dia inteiro e em vão.

Chivukuvuku apela ao bom senso

Entretanto, o antigo dirigente da UNITA e líder da CASA-CE até há pouco tempo, Abel Chivukuvuku, apelou ao diálogo entre todos os envolvidos no processo de inumação de Jonas Savimbi.

Para além do diálogo, Chivukuvulu apelou ainda ao bom senso porque só assim será possível ultrapassar este diferendo.

Abel Chivukuvuku garantiu em conferência de imprensa que é “produto de formação política da escola do Doutor Jonas Malheiro Savimbi” e, por isso, queria estar presente na cerimónia de enterro dos seus restos mortais. Mas devido ao período de convalescença que ainda se encontra, não o fará.

Abel aproveitou a oportunidade para tecer elogios ao Presidente da República por ter assumido este processo como de resolução prioritária.

O papel do Presidente João Lourenço deve ser reconhecido porque foi essencial para a libertação de Savimbi da “prisão” onde esteve durante 17 anos mesmo morto, disse. O político referia-se ao facto de a família do fundador da UNITA ter estado todos estes anos a aguardar pelos restos mortais do seu familiar.

Oficialmente o corpo de Savimbi estava à guarda do governo desde o momento em que foi enterrado pelas tropas governamentais após a sua morte, em 2002.

Angop/NJ