Foi a bordo de um avião que Auria Machado se despediu da vida – uma mulher que transformou suínos em símbolo de superação, e a suinicultura numa bandeira de sustentabilidade, empreendedorismo feminino e orgulho nacional. Angola perde mais do que uma empresária: perde uma pioneira.
Formada em Gestão de Empresas, Marketing e Nutrição Animal, Auria era a proprietária da Fazenda Auria Machado, localizada na comuna da Calima, município do Huambo. O seu projecto era considerado um modelo nacional de inovação agro-pecuária, destacando-se pela criação de suínos, produção de carne e derivados, com mercados abastecidos nas províncias de Luanda, Benguela e até na Namíbia.
A paixão pelos animais transformou-se em missão de vida. Auria apostava em práticas sustentáveis e orgânicas, rejeitando o uso de hormonas ou antibióticos, com base no modelo “free range”, que garante maior bem-estar animal.
Além da produção, era uma activista da causa feminina no agronegócio, defendendo a participação activa das mulheres em sectores tradicionalmente dominados por homens.
Nos próximos dias, Auria participaria na Feira do Gado da Expo-Huambo (24 a 28 de Setembro), onde também tencionava lançar a sua primeira obra literária: “A Rainha dos Porcos”. O livro, segundo revelou em recente entrevista, seria um manual prático e testemunho de vida, abordando os desafios do sector, estratégias sustentáveis e o empoderamento feminino.
Análise Editorial
A morte de Auria Machado representa um rombo no empreendedorismo feminino nacional e um vazio profundo no agronegócio angolano. Enquanto muitos se perdiam no discurso, ela fazia do campo palco de transformação social, económica e ambiental.
Auria não apenas criou porcos — criou dignidade, gerou empregos e reposicionou Angola no mapa da produção animal sustentável. A sua perda, num momento em que o país busca diversificar a economia fora do petróleo, deve servir de alerta: não podemos continuar a perder os nossos melhores sem antes lhes dar visibilidade, reconhecimento e apoio institucional em vida.
Ela partiu sem lançar o seu livro. Cabe-nos agora fazer eco à sua história, transformar a sua luta em legado, e garantir que mais “Rainhas dos Porcos” possam florescer nos campos angolanos.