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“Em tempos de crise, inovar é a única saída”

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Quando uma sociedade passa por uma grande crise, é comum olhar para os avanços tecnológicos como uma ameaça e, para o futuro, com uma lente de pessimismo. Por isso mesmo, é bom ouvir quem enxerga essa realidade com novos olhos, com olhos na inovação.

Peter Kronstrøm, líder do Copenhagen Institute for Futures Studies na América Latina, tem esse perfil. O dinamarquês, que vive na América Latina há quase dez anos e se debruça sobre o estudo do futuro, é sem dúvida um optimista. “Muito do optimismo que estava aqui em 2008 e 2009 desapareceu, e acho isso desnecessário. Esse momento é como um marco zero, é necessário também para mudar para algo melhor”, diz ele.

A próxima inovação profunda que veremos, defende Kronstrøm, será na matriz energética.

Novas tecnologias vão mudar a forma como a sociedade gera, armazena e comercializa a energia eléctrica. Ele também projecta que a sustentabilidade se tornará, cada vez mais, uma questão importante para o modelo de negócios das empresas.

Sobre o futuro do trabalho, ele diz que as tecnologias poderão substituir 60% dos profissionais, mas defende que isso não será ruim – “os humanos terão mais tempo para o trabalho intelectual e criativo”.

O Instituto Copenhagen diz que as mudanças na matriz energética serão a principal revolução dos próximos 10 anos. De que forma isso pode afectar nossas vidas?
Cada vez mais vamos usar formas renováveis de energia, que ficarão mais baratas e acessíveis. Também acreditamos que, com a inovação, a geração de energia cada vez mais será feita pelo próprio consumidor em suas casa ou nos meios de transporte. Isso vai provocar uma revisão da infraestrutura de distribuição e geração de energia e só será possibilitado pelos avanços tecnológicos.

Um dos Projectos que estamos a ver é o Hyperloop, um meio de transporte que vai gerar mais energia do que usa, devolvendo parte dela para a sociedade.

Qual país lidera esse movimento?
É difícil citar um país. Os escandinavos e a Austrália, por exemplo, investem muito nisso. Mas vários outros países estão a dar importância a este assunto, como a China, que tem investido bastante em fontes renováveis de energia, como a energia solar.

Esse esforço tem a ver com questões como as mudanças climáticas e o Acordo de Paris, ou é o lado económico que tem incentivado os avanços?
Não, o mundo não está nem aí para as mudanças climáticas. Mas todos sabemos que há problemas muito grandes a respeito do consumo e geração de energia. O que estamos felizes em ver no Instituto Copenhagen é que a sustentabilidade e a energia limpa começam a ser vistas como um óptimo modelo de negócio.

A energia solar está cada vez mais barata, assim como outras formas de energia renovável. Passou a ser um bom negócio — que também vai salvar nosso planeta. Ser sustentável está virando um óptimo negócio. Os países que lideram essa transição também estão ganhando economicamente com essa mudança.

E o que falta para que mais empresas passem a enxergar a sustentabilidade como modelo de negócio?
Mais consciência. E acho que isso tem que vir da iniciativa privada, não podemos esperar que os governos do mundo inteiro façam as mudanças necessárias. É necessário inovação e que haja uma discussão entre o sector privado e o sector público para criar o novo sistema de infraestrutura de energia que queremos no futuro.

As empresas brasileiras já entenderam isso, ou ainda pensam que a sustentabilidade é apenas um discurso bonito, separado do modelo de negócio, só um custo a mais?
Cada vez mais as empresas estão a ver como isso pode se tornar um modelo de negócios, como isso pode criar um resultado positivo também financeiramente. Mas muitas empresas também apostam no chamado “green washing”, fazem iniciativas pequenas e dizem que agora são completamente sustentáveis. Não dá mais para fazer isso.

Ainda há muito a fazer, mas sou optimista, acho que estamos avançando. As empresas estão entendendo que não é só mais um custo chato, mas como algo necessário.

Outra pesquisa do Instituto Copenhagen diz que a tecnologia pode substituir até 60% da força de trabalho actual. Isso deixaria muitas pessoas sem emprego? Como lidar com isso?
Não, pelo contrário. Quanto mais empresas usam a tecnologia e a robótica, mais elas crescem e mais podem continuar contratando.

Acho fundamental não olhar para as novas tecnologias como uma ameaça que vai tirar os empregos. A tecnologia vai tirar os trabalhos chatos das mãos dos humanos, e nós vamos mudar a nossa capacidade de trabalhar, fazendo funções muito mais criativas e intelectuais e nos ocupando com coisas mais criativas, que as máquinas não conseguem fazer.

Da mesma forma que alguns trabalhos que fazemos hoje serão substituídos por robôs, vão surgir outros empregos, que nem podemos imaginar. Nossa estimativa é de que hoje 5 milhões de pessoas se sustentam só postando e vendendo coisas pela internet. Se você falasse há 50 anos que em 2017 cinco milhões de pessoas se sustentariam só a se filmar elas próprias e a postar numa coisa que se chamaria internet, ninguém teria acreditado.

Como a inteligência artificial poderá mudar nossas vidas, e qual será o impacto na economia?
Penso mais na inteligência artificial como uma ferramenta tecnológica, como uma extensão do nosso cérebro. No longo prazo, vai tornar nossas vidas muito mais fáceis. Essa tecnologia vai revolucionar várias áreas, como energia e saúde.

O senhor tem uma visão bastante otimista…
Sim, eu tenho uma visão mais optimista do que pessimista. Eu hoje quero uma inteligência artificial que olhe meus emails e me diga o que é importante, o que eu tenho de fazer e onde tenho que estar em cada momento. É o que toma mais tempo do meu dia, e é muito chato.

Daqui a pouco teremos alguma tentativa de fazer isso, que vai ser ruim no começo, mas que vai melhorar com o tempo. Claro que poderemos ter alguns exemplos de mau uso da tecnologia, mas sempre foi assim na história humana. As facas, por exemplo, podem ser usadas para comer ou para fazer coisas muito ruins.

O que as empresas precisam fazer para lidar com esse futuro?
O valor mais importante para as empresas é detectar a mudança muito rápido e conseguir lidar com essa mudança. Os humanos e as empresas que conseguirem se adaptar a essas mudanças e que conseguirem mudar rápido serão líderes.

A crise económica abranda a capacidade de inovação das empresas?
Não, pelo contrário. Uma das coisas que eu percebo nas pessoas é a abertura ao novo, a curiosidade e a vontade de se reinventar. Quando há uma crise, temos de colocar todas as forças na inovação, porque a única resposta agora é criar novas soluções. Não podemos usar ferramentas antigas para solucionar problemas novos. Por isso precisamos inovar. Especialmente em tempos de crise, inovar é a única saída.

 

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