Faleceu aos 64 anos, em Portugal, o jornalista Guilherme Galiano, um dos rostos mais carismáticos da comunicação social angolana. Mais do que apresentador e gestor de media, “Tio Gali” foi uma referência incontornável para várias gerações, tanto na televisão como na rádio, dentro e fora do país.
A sua morte deixa um vazio imenso no jornalismo nacional — e na memória sonora da música africana em Portugal, que ajudou a popularizar.
Figura emblemática da TV Zimbo, onde fez a gestão de diversos programas e chegou a presidir ao Conselho de Administração, Galiano destacou-se igualmente como dinamizador da cultura angolana no estrangeiro. Conhecido por muitos como “Tio Gali”, “Kabango” ou simplesmente “Gegé”, foi um dos primeiros promotores da música africana em terras lusas e a primeira voz da RDP África.
Natural da cidade de Benguela, nasceu a 28 de Setembro de 1960. Cresceu entre o Lobito e Luanda, antes de partir para Portugal em 1981, onde viria a residir durante quase três décadas.
Ao longo da sua trajectória, brilhou nas rádios Universitária do Tejo (com o histórico programa “A Voz do Kilimanjaro”), Comercial (1986–1992) e Clube Português (1992–1994). Na televisão portuguesa, participou no icónico “Kandandu”, uma co-produção da RTP e da TPA voltada para a valorização da identidade cultural angolana.
Foi também mentor e mestre de muitos profissionais de imprensa, sendo descrito como um “farol” para jovens jornalistas e uma “ponte viva” entre Angola e a sua diáspora cultural.
O seu falecimento motivou manifestações de pesar de várias entidades nacionais, incluindo o Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS), o Governo Provincial de Luanda (GPL), o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), a União dos Jornalistas Angolanos (UJA) e diversas organizações do sector.
Análise Editorial
A morte de Guilherme Galiano representa o fim de uma era na comunicação angolana. Num tempo em que o jornalismo luta por recuperar credibilidade, Tio Gali foi sempre sinónimo de autenticidade e compromisso com a cultura. O seu legado vai além da televisão e rádio — ele moldou linguagens, ergueu pontes entre Angola e a lusofonia, e abriu microfones para vozes africanas em ambientes onde antes reinava o silêncio.
O Correio Digital reconhece o seu papel enquanto construtor de identidade e embaixador cultural não-oficial, alguém que viveu para comunicar Angola ao mundo.