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África do Sul “à beira do abismo”, empresários exigem acção

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“África do Sul sempre andou perto do limite, mas à medida que os aspectos negativos se acumulam – crises simultâneas de energia, logística, desemprego, educação e governação, juntamente com o aumento de assassinatos e raptos – há a sensação de que está a deslizar para um abismo de desespero”, escreve o Financial Mail.

Aumenta o número de executivos sul-africanos que exigem medidas urgentes para relançamento da economia do país, porque o risco de a África do Sul se tornar um estado falhado é cada vez maior e as preocupações aumentam perante um cenário de instabilidade política nas eleições de 2024, com a perspectiva de formação de uma coligação entre o ANC, que governa o país, e o Economic Freedom Fighters (EFF), partido de extrema-esquerda de Julius Malema.

O antigo vice-governador do Banco de Reserva da África do Sul (banco central) e presidente indigitado do Nedbank Group, Daniel Mminele, e o director executivo do grupo de telecomunicações MTN, Ralph Mupita, são duas das vozes que se juntaram ao coro de executivos que alerta contra a “complacência” do governo perante fenómenos que estão a atrofiar a economia sul-africana, com a segunda pior taxa de crescimento na África Subsariana (0,1%), em 2023, nas previsões do FMI, a seguir à Guiné Equatorial (-1,8%).

O alerta dos empresários ecoa num artigo do Financial Mail, que traça um cenário de catástrofe iminente. Com o título “África do Sul esgotou o tempo do relógio do juízo final?”, o artigo de Claire Bisseker reflecte o pessimismo dos executivos de grandes conglomerados empresariais e capta o sentimento dos sul-africanos após múltiplas crises nos últimos cinco anos.

Sentido de urgência

Num evento terça-feira, Daniel Mminele incitou à acção, afirmando que África do Sul precisa de uma liderança forte e decisiva para promover parcerias público-privadas que ajudem a combater o elevado desemprego, sobretudo entre os jovens, a pobreza e a desigualdade. É preciso “maior sentido de urgência na resolução destas questões” e de quadros de “responsabilização muito mais fortes”, afirmou o ex-CEO do Absa Group, citado pela Bloomberg.

Além da taxa de desemprego de 32,7%, uma das mais altas do mundo, o país enfrenta uma crise energética, que deverá fazer a inflação aumentar substancialmente, como previu terça-feira, o banco central, no final da reunião do comité de política monetária.

O Banco de Reserva prevê que os cortes de electricidade aumentem em 0,5 pp a taxa de inflação, uma vez que as empresas transferem para os consumidores os custos da energia de soluções alternativas. O país enfrenta há mais de um ano cortes regulares de electricidade, que levaram o governo a decretar o estado de calamidade, porque a empresa pública de electricidade, a Eskom, não consegue satisfazer a procura.

Os apagões reduzem o número de horas em funcionamento, a produção e a produtividade das empresas, obrigando-as a recorrer a fontes alternativas, como os geradores a gasóleo, que, segundo o banco central são 133% mais caros do que a energia da rede pública. Indicador que reflecte bem o impacto da crise energética, num país em que mais de 80% da energia provém de centrais a carvão.

Um inquérito recente da Federação das Indústrias de Aço e Engenharia da África Austral (SEIFSA) revelou que 24% dos seus membros tinham eliminado 9.432 postos de trabalho por causa dos apagões dos últimos 12 meses, 43% cancelaram investimentos planeados no valor 144,5 milhões USD, e quase 80% tinham investido o equivalente a 54 milhões USD em soluções de energia alternativa, sobretudo geradores a gasóleo, que aumentaram os custos mensais das empresas em 25%.

Isto significa que as “empresas estão a sacrificar o escasso capital de longo prazo pela sua sobrevivência imediata, com implicações adversas para a competitividade global da África do Sul e para a sustentabilidade do sector a longo prazo”, resume o artigo do Financial Mail (FM).

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