Alunos forçados a abandonar as aulas devido a seca que assola o Cunene

0
950

Segundo apurou a Angop, essa realidade vive-se, essencialmente, na povoação do Ombwa, comuna do Oncocua, município do Curoca, no Evale (Cuanhama) e em Ontchinjao (Cahama), situação que preocupa as autoridades locais e faz aumentar o número de reprovações.

O administrador comunal interino do Ombwa, Adriano Samba, explicou que devido à estiagem muitas crianças estão a ser obrigadas a abandonar os estudos, para seguir os pais na transumância (deslocação de pastores e rebanhos na procura de pasto) e na procura de alimentos para o sustento da família.

“(….)  As crianças abdicam dos estudos porque, em tempo de seca, os pais, criadores, tornam-se nómadas, uma vez que têm de percorrer longas distâncias (por vezes mais de 100 quilómetros) até encontrarem comida e água para o gado”, esclareceu o também secretário do soba.

Gelson Katchihaluoko, professor na localidade desde 2018, disse ser complicado leccionar no Ombwa pelo facto de os alunos faltarem muito, por viverem longe e, por serem obrigados, pelos pais, a dedicarem-se ao pasto, principal fonte de sustento da localidade.

“Normalmente, as salas de aula da iniciação à sexta classe são compostas por 15 alunos, mas até ao final do ano podem ficar 12 ou até 8 alunos, porque estes acompanham os pais à transumância”, lamentou.

Até há bem pouco tempo, referiu o professor transferido de Ondjiva, a administração ajudava com merendas escolares, mas nos últimos meses deixou de o fazer, o que provocou o aumento do índice de abandono escolar.

Por sua vez, a administradora municipal da Cahama, Maria de Lourdes de Oliveira, minimizou a situação, mesmo em evolução, por entender que com fome dificilmente as pessoas assimilam a matéria e a maioria das comunidades rurais do Cunene não vive sem o pasto e a agricultura.

“A nível da Cahama, 82 crianças abandonaram as escolas para acompanharem os pais nas áreas de transumância, mas estas não são exactamente do nosso município, são pessoas que vieram da Namíbia, do Virei (província do Namibe) e dos Gambos (Huila)”, explicou.

De acordo com a responsável, os dados referem-se a este ano e algumas destas crianças, inclusive do sexo feminino, também são provenientes do Curoca e de Ombanja, localidades que recentemente receberam feno para o gado em transumância e que em breve beneficiarão de novos furos de água.

Já o administrador comunal do Evale (município de Ondjiva), Porfílio Vatileni, salientou ser difícil controlar a situação, por se tratar de comunidades ou povoações que vivem da agropecuária há centenas de anos, e que não admitem que nenhuma outra actividade se sobreponha à pastorícia.

“Estamos com muitas crianças fora do sistema de ensino devido à seca, visto que estas são obrigadas a procurar alternativas de sobrevivência, sendo a transumância a primeira opção, porque a agricultura fica nula. Mas as cheias também retiram as pessoas das escolas”, resumiu.

É uma prática frequente em várias povoações e comunidades dos seis municípios do Cunene, nomeadamente Cuanhama, Cahama, Curoca, Namacundi, Ombanja e Cuvelai.

A nível da província estão matriculados, no presente ano lectivo, 214 mil 311 alunos, sendo 168 mil 510 no ensino primário, 30 mil 587 no primeiro ciclo e 15 mil 214 do segundo ciclo. O sistema é assegurado por seis mil e 298 professores, distribuídos por 868 escolas.

Dessas instituições de ensino, 792 são do ensino primário, 56 do primeiro ciclo e vinte do segundo ciclo, mas por insuficiência de salas, 72 mil e 327 crianças do ensino primário frequentam as aulas ao ar livre, devido ao deficit de cinco mil 598 salas de aula.