Para o especialista José Oliveira a “maka” entre Angola e a OPEP resulta da falta de experiencia negocial do País e de um erro de estratégia. Outro especialista defende que com o hábito da OPEP em resolver tudo por via diplomática é pouco provável que o cartel recorra a sanções que incluem penalizações financeiras a suspensão temporária dos órgãos de tomada de decisão.
A Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), após confirmar os dados da capacidade real da produção de Angola junto das três principais consultoras internacionais do sector, atribuiu uma quota de produção ao País de 1,110 milhões de barris por dia, o que levou o País a “bater o pé” e a ameaçar que vai ultrapassar esses máximos. Angola pede 1,180 milhões de barris/dia, acima dos 1,060 milhões que inscreveu no OGE e a história mostra que o País não cumpre pelo menos desde 2013 as metas de produção inscritas nos orçamentos.
Com este corte, Angola passa de uma quota de produção máxima de 1,280 milhões de barris por dia, equivalente a mais 183 mil barris dia daquela que tem sido a média mensal de 2023, de 1,097 milhões de barris diários (ver gráfico). A nova quota imposta pela OPEP, que comprovou que Angola não tem capacidade para chegar aos 1,180 milhões/dia pedidos, entra em vigor a 1 de Janeiro.
A maka é que Angola não consegue cumprir as metas de produção de petróleo que inscreve no OGE pelo menos nos últimos 10 anos. Aliás, o Plano de Desenvolvimento Nacional 2023-2027, aponta a uma produção média diária em Angola para 2024 de apenas 1,100 milhões de barris, ou seja, ainda assim abaixo daquela que é a quota agora imposta pelo cartel de países produtores.
E os dados que a OPEP possui indicam que o País não tem capacidade para produzir acima da quota atribuída pela OPEP. E a culpa é do envelhecimento das estruturas de produção e dos poços que obrigam a manutenção cada vez mais constante e não programada, levando o País a perdas à volta de 91 mil barris de petróleo por dia.
Aliás, apesar de estarem previstos furos de novos prospectos em alguns blocos importantes como o 17, 15 e 15/06, os indicadores apontam que os barris de petróleo adicionais que vão resultar destes furos são residuais e apenas garantem aproximadamente 10 a 30 mil barris de petróleo por dia e apenas vão servir para manter a produção de petróleo acima de um milhão de barris por dia até 2027. Ou seja, não servem nem garantem aumento de produção. A OPEP entende que Angola não tem capacidade para produzir tanto e nem sequer chegar perto da meta e por isso atribui uma quota em linha com a sua capacidade real e que se acredita que terá serias dificuldades em atingir.
E de acordo com fontes ligadas ao processo, a OPEP já havia avisado o País há quase três meses que a sua quota de produção para o próximo ano seria atribuída em linha com a capacidade real de produção de petróleo, que seria e foi confirmada por três entidades independentes internacionais credíveis, a Rystad Energy, a IHS Markit e a Wood Mackenzie.
As quotas atribuídas entram em vigor em Janeiro de 2024 e terminam em Março do referido ano, período em que a OPEP vai fazer uma reavaliação do mercado e perceber se há folga para aumentar a produção dos membros da OPEP +, manter ou reduzir ainda mais os cortes voluntários de 2,2 milhões de barris de petróleo por dia.
De acordo com um comunicado da OPEP publicado em finais de Novembro, quase metade dos cortes de produção serão suportados pelo líder de facto do cartel, a Arábia Saudita, que vai cortar a sua produção em 1 milhão de barris de petróleo por dia.
O comunicado da OPEP a que o Expansão teve acesso anuncia os cortes voluntários dos membros da OPEP, mas não cita Angola, e anuncia os cortes voluntários dos seguintes países membros: Iraque (223 mil b/d); Emirados Árabes Unidos (163 mil b/d); Kuwait (135 mil b/d); Kazaquistão (82 mil b/d); Argélia (51 mil b/d); e Omã (42 mil b/d).
Expansão