O antigo administrador financeiro da Sonangol, Sarju Raikundalia, transferiu, já depois de ter sido exonerado, 38 milhões de dólares para o Dubai, revelou ontem o presidente do conselho de administração da petrolífera nacional.
“Tomámos posse no dia 16 de Novembro de 2017 e nesse dia, à noite, apercebemo-nos que o administrador que cuidava das finanças na Sonangol, embora tivesse sido exonerado no dia 15, ordenou uma transferência no valor de 38 milhões de dólares para a Matter Business Solution, com sede no Dubai”, acusou Carlos Saturnino.
Falando em conferência de imprensa, realizada ontem na sede da companhia estatal, o presidente do conselho de administração adiantou que a transferência em causa foi efectuada através do banco BIC, onde a sua antecessora, Isabel dos Santos, é accionista.
Segundo o gestor, esse “passou a ser um dos bancos preferenciais a nível da Sonangol”.
Para além da transferência de 38 milhões de dólares, Carlos Saturnino avançou que “no dia 17 de Novembro houve o pagamento de mais quatro facturas também”.
Diante destes movimentos, o PCA questionou: “Como é que pessoas que tinham sido exoneradas pelo Governo ainda faziam transferências?”.
Apesar de referir que “isso dispensa comentários”, o responsável defendeu que “não pode ser um acto de boa-fé de certeza absoluta”.
A polémica sobre alegadas transferências da anterior administração já depois da exoneração estalou em Dezembro passado.
Na altura, Isabel dos Santos atribuiu tudo a uma “campanha de difamação“
O jornalista e activista Rafael Marques já na altura questionava a atribuição de funções na Sonangol a este senhor.
Sarju Raikundalia e Isabel dos Santos formavam a dupla que geria as finanças da empresa petrolífera. Os salários não eram pagos sem a assinatura de ambos: da princesa Isabel e de Sarju Raikundalia.
Contudo, e desde logo, a posição de Sarju Raikundalia causava estranheza. Sarju Raikundalia foi nomeado como administrador não executivo da empresa (artigo 1.º, alínea k do Decreto Presidencial n.º 120/16, de 13 de Junho).
Todavia, na divisão de pelouros surgiu com atribuições que permitiam-lhe inferir que a sua actividade fosse bastante “executiva”. Eram seus pelouros a direcção de Finanças, a direcção de Planeamento a direcção de Sistemas de Informação, a direcção de Tecnologias de Informação, o gabinete de Relações com o Estado e Fiscalidade, a Unidade de Gestão de Processos e o fundo de Abandono. Ou seja, o núcleo financeiro e informático da empresa estava nas suas mãos.
Facilmente se via que, uma vez que Sarju Raikundalia estava indicado como administrador não- executivo, não podia ter pelouros e não podia gerir e muito menos ser responsável pelo pagamento de salários na Sonangol.
Todo o movimento e controlo financeiro da Sonangol dependia de duas e só duas pessoas: Isabel dos Santos e Sarju Raikundalia. E a posição deste último contraria o disposto no Decreto Presidencial nº. 110/16, de 26 de Maio.
Melhor era impossível!
NJ/CD