Elevada carteira de malparado pressiona os resultados da instituição que tem como objectivo o apoio ao desenvolvimento. Activos caíram 7% para 437,3 mil milhões Kz, e stock de títulos e valores mobiliários caiu 19%.
Com um rácio de crédito malparado elevado, o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) viu as suas contas no vermelho no I semestre de 2022, com um prejuízo de 40,8 mil milhões Kz, o que compara com os lucros de 5,7 mil milhões registados nos primeiros seis meses do ano passado.
Face ao I semestre de 2021, a instituição bancária que tem como objectivo o apoio ao desenvolvimento, controlada a 100% pelo Estado, viu os seus activos caírem 7% para 437,3 mil milhões Kz, para o qual contribuiu a queda de 19% no stock de títulos e valores mobiliários em sua posse para 107,0 mil milhões Kz. Também os créditos caíram 10% para 201,9 mil milhões Kz.
O banco que não capta depósitos viu os seus fundos próprios subirem 8% para 239,4 mil milhões Kz no I semestre deste ano face ao período homólogo.
O balancete é um mero instrumento de balanço e não aprofunda as demonstrações das instituições, pelo que não explica como é que o BDA registou prejuízos tão elevados no I semestre.
Mas, de acordo com o relatório e contas 2021, o BDA tem na sua carteira de activos um elevado rácio de crédito de cobrança duvidosa (afecta, entre outros, a margem financeira e obriga à constituição de imparidades), bastante acima da média das instituições bancárias do sistema financeiro nacional que, de acordo com dados do BNA, no final de 2021 era de 20,26%.
Em Dezembro de 2021, a taxa de incumprimento (crédito vencido acima de 90 dias) da carteira de crédito do BDA era de 48% (41% em 2020), o que representava 206,3 mil milhões Kz.
Uma boa parte desse crédito vencido pertence à Angola Cables que, de acordo com o auditor externo às contas do BNA, a consultora Bakertilly, devia no final do ano passado um total de 128,4 mil milhões Kz, dos quais 47,7 mil milhões estavam já vencidos (sem pagamento de juros e amortizações).
Ainda assim, de acordo com o relatório e contas de 2021, a instituição tem encetado esforços no sentido de renegociar e recuperar alguns dos créditos em incumprimento.
No ano de 2021, foram recuperados créditos em incumprimento no montante de quase 1,6 mil milhões Kz nos sectores da agricultura e pecuária, comércio e serviços e indústria transformadora.
Investimentos na família de Eduardo dos Santos
Por outro lado, o auditor externo às contas do BDA alerta ainda que as demonstrações financeiras de 2021 incluem uma participação financeira no Fundo Erigo I, no valor de quase 3,1 mil milhões Kz, cujo relatório de auditoria inclui uma “reserva por limitação de âmbito relacionada com a recuperabilidade de activos no valor de 1.996.738 EUR (cerca de 1,3 mil milhões Kz).
A Bakertilly diz ainda que este fundo gerido pela ERIGO, Sociedade de Capital de Risco estava em processo de liquidação “não sendo possível determinar os eventuais impactos desse processo na valorização daquele activo” nas contas do BDA.
Em termos práticos, o BDA deverá ter que dar como perdidos o investimento que fez naquele fundo gerido por uma sociedade registada em Lisboa e na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (Portugal), que segundo vários órgãos de comunicação social portuguesa tem ligações a Maria Luísa Abrantes, ex-PCA da ANIP, que é mãe de José Paulino dos Santos (Coréon Dú) e Tito Mendonça, ambos com ligação a esta sociedade, onde já foram administradores.
Expansão