Dois terços das empresas a caminho da bolsa estão nos sectores financeiros e petrolífero. Construção civil, recursos minerais e Tecnologias de informação concentram as restantes 33,4%. BFA é a que melhor remunera os seus accionistas. Sonangol lidera nos lucros mas não tem pago dividendos.
Depois de anos em “banho-maria”, a Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) ganhou vida em 2022 com a entrada do BAI e do Caixa Angolam, que ainda assim valem apenas 1,56% das negociações em bolsa. A caminho está a entrada de 12 grandes empresas nacionais, num caminho a percorrer até 2027, o que a concretizar-se vai dar peso ao mercado de acções no País.
A admissão a negociação das acções destas empresas na BODIVA deverá resultar na consolidação do mercado de acções como alternativa de financiamento para as empresas ao tradicional mas ainda caro e difícil, crédito bancário.
Do sector privado estão a caminho da bolsa, pela modalidade de Oferta Pública Inicial (OPI), a Omatapalo, que actua no sector da construção civil, o banco Millennium Atlântico, e as petrolíferas ACREP e a ex-Somoil, que esta semana mudou de nome para Etu energias.
Aguardam-se também para animar o mercado aumentando o numero de acções em negociação na bolsa e consequentemente da capitalização bolsista do mercado as empresas do sector petrolífero a Sonangol E.P. e a sua participada Sonamet Industrials, especializada no fabrico de estruturas para produção de petróleo. Do sector financeiro vêm ai as participações do Estado no BFA (indirecta), na BODIVA, e na ENSA Seguros.
O sector das telecomunicações e tecnologias de informação vai contribuir com a entrada de duas empresas, no caso a líder do sector, a Unitel, e uma das suas concorrentes a nível dos serviços de internet, a TV Cabo Angola. A fechar a lista das empresas a caminho da bolsa está a líder no sector dos diamantes, a estatal Endiama.
De acordo com o fundador da consultora de investimentos Air Trading, Bruno Janeiro, esta entrada de mais empresas a dispersarem as suas acções na bolsa via IPO permite aumentar a transparência das suas contas, pois as mesmas passam a ser supervisionadas e a ser obrigadas a disponibilizar a sua informação financeira.
“A cultura do secretismo era o que levava muitas empresas a ficar reféns apenas do crédito bancário, mas isso está a mudar para bem da economia angolana. Ao contrário do crédito bancário tradicional, que em Angola tem taxas elevadas com prazos curtos, a emissão de acções permite à empresa emitente ter acesso a financiamento que nalguns casos pode ser mais barato que o crédito”, explica Bruno Janeiro.
Aliás, a legislação angolana, à semelhança do que acontece noutros mercados de capitais, obriga as empresas cotadas em bolsa a publicarem relatórios e contas anuais e semestrais e balancetes trimestrais de modo a informar os investidores e accionistas sobre a evolução no negócio da empresa, os riscos e proveitos bem como facilitar a decisão de investimento.
Para Bruno Janeiro, a entrada destas 12 empresas na bolsa de valores vai permitir que cada vez mais as empresas olhem para a venda do seu capital em bolsa como uma alternativa de financiamento. “Para além disso, a entrada dessas empresas em bolsa vai aumentar o interesse dos investidores em negociar acções na bolsa de valores como fonte alternativa de rendimentos, criando maior liquidez nas restantes acções admitidas à bolsa”, esclarece.
Nas economias mais desenvolvidas o mercado de acções é um dos principais mecanismos de financiamento das grandes empresas, mas em Angola no primeiro ano de actividade representou só 1,5% dos 1,556 biliões Kz negociados na BODIVA em 2022. De acordo com especialistas ouvidos pelo Expansão, a culpa é por um lado do ainda reduzido número de acções em circulação no mercado de capitais em Angola, que resulta da fraca presença de empresas cotadas, apenas duas, que pertencem a um único sector, a banca.
Expansão