Crescimento de 186% no número de operações e de 256% no valor movimentado no primeiro semestre revela força do e-commerce em Angola, mas compras online ainda representam apenas 1% do total.
O comércio electrónico em Angola está a registar crescimento exponencial, impulsionado pelo uso de plataformas digitais de pagamento como o Gateway de Pagamentos Online (GPO) da EMIS e pela crescente adesão ao Código QR. No primeiro semestre de 2025, foram registadas 12 milhões de operações de compras online, o que representa um aumento de 186% face ao mesmo período do ano anterior.
Em termos monetários, as transacções ascenderam a 64 mil milhões de kwanzas, mais 46 mil milhões do que no primeiro semestre de 2024 — um crescimento superior a 250%, segundo cálculos do Expansão com base em dados da Empresa Interbancária de Serviços (EMIS).
Crescimento digital impulsionado por conveniência e segurança
Desde o lançamento do GPO da Rede Multicaixa em 2021, a EMIS tem vindo a acelerar a digitalização dos pagamentos em Angola. O GPO permite pagamentos totalmente online em lojas e sites nacionais, sem necessidade de leitura de cartão físico, utilizando plataformas como o Multicaixa Express (MCX).
“Com os pagamentos via código QR, já não vejo necessidade de andar com cartões. É seguro e prático. Faço tudo com o meu telemóvel”, afirmou José João, utilizador regular da plataforma, em entrevista ao Expansão.
O uso do QR Code, que permite pagamentos directamente a partir da aplicação móvel MCX, tem sido uma das inovações que mais contribuíram para o aumento da adesão ao comércio electrónico.
Apesar da expansão, comércio online ainda é residual
Apesar dos avanços registados, as compras online continuam a representar apenas 1% do total de compras na rede Multicaixa desde 2020, enquanto o número de operações equivale a 4% do total.
Desde a introdução do serviço, foram contabilizadas 21,9 milhões de operações, com 132,9 mil milhões Kz movimentados em compras digitais até Junho deste ano. Ainda assim, há margem substancial para crescimento, especialmente se comparado com outros mercados africanos.
Perfil conservador do consumidor trava maior adopção
Segundo Nelson Prata, presidente da ACONSBANC (Associação Angolana de Defesa do Consumidor de Serviços e Produtos Bancários), o perfil tradicional do consumidor bancário ainda predomina, com muitos clientes a manifestarem desconfiança nos canais digitais e falta de conhecimento sobre os métodos de pagamento mais recentes.
“Apesar da evolução dos canais digitais no sistema financeiro, o consumidor angolano ainda tem uma postura conservadora, especialmente no uso de serviços não-presenciais”, sublinhou.
Tendência confirma potencial de transformação digital no sector bancário
O valor movimentado no primeiro semestre de 2025 já supera em 16% o total de 2023, e o número de operações é 63% superior ao registado em todo o ano anterior, confirmando o potencial disruptivo dos meios de pagamento electrónicos no ambiente de negócios angolano.
Com a crescente cobertura de Internet, penetração de smartphones e expansão da literacia digital, o comércio electrónico poderá representar uma das vias mais rápidas de inclusão financeira, redução da circulação de numerário e fortalecimento da economia digital.
ANÁLISE EDITORIAL – Correio Digital
Os dados revelam que a economia digital está a ganhar tração em Angola, impulsionada pela inovação nos meios de pagamento e pelo comportamento de um consumidor cada vez mais orientado para a conveniência. No entanto, o sucesso a longo prazo do comércio electrónico dependerá da confiança do consumidor, inclusão digital e estabilidade regulatória. O desafio é claro: digitalizar sem excluir e crescer sem concentrar.