O “ouro negro” segue em forte alta, sustentado pelo bloqueio do Canal do Suez por parte do navio porta-contentores Ever Given, que encalhou na terça-feira, ficando atravessado naquela importante via marítima e impedindo a passagem de embarcações em ambas as direções.
O West Texas Intermediate (WTI), “benchmark” para os Estados Unidos, para entrega em maio soma 4,42% para 61,15 dólares.
Já o contrato de maio do Brent do Mar do Norte, crude negociado em Londres e referência para as importações europeias, avança 4,13% para 64,51 dólares.
Na quarta-feira, os preços tinham estado já a disparar em torno de 6% devido ao congestionamento do Canal do Suez, uma importante via de escoamento de petróleo.
Na sessão de ontem, as cotações corrigiram, com os investidores mais focados nos receios de que os novos confinamentos na Europa reduzam o consumo de combustível.
Mas hoje, com a previsão de que possa demorar semanas a desencalhar o Ever Given, o crude voltou a valorizar fortemente.
“O interesse dos investidores pelo petróleo recuperou nas últimas horas, após as notícias de que o bloqueio do Canal de Suez que pode não ter uma rápida resolução à vista.”
“A abertura positiva das ações europeias esta manhã e um cenário de risco moderado estão a ajudar a impulsionar o petróleo, embora haja uma pressão de baixa a curto prazo, após uma longa recuperação verificada nos últimos meses”, sublinha Carlo Alberto de Casa, analista chefe da ActivTrades, na sua análise diária.
Apesar da subida de quarta-feira e de hoje, os preços do petróleo estão a caminho da terceira semana consecutiva de saldo negativo.
O Canal do Suez é uma importante via para o comércio marítimo, com grande preponderância para o chamado “ouro negro”. Em todo o mundo, circulam por dia pouco mais de 70 milhões de barris diários, com a Europa a importar 20% desse volume (14 milhões diários).
Pelo Suez passa o petróleo que a Europa importa do Médio Oriente, de países como a Arábia Saudita e o Iraque, explicou ao Negócios José Caleia Rodrigues, especialista em questões petrolíferas e que já publicou vários livros sobre este tema.
“Pelo Canal do Suez passam quase cinco milhões de barris diários de petróleo – 7% do crude transacionado diariamente a nível mundial – com destino à Europa”, sublinhou o mesmo especialista.
Metade dos 14 milhões de barris/dia que a Europa importa provém da Noruega e da Rússia, não havendo problema com esse fornecimento, mas o facto de ficar quase sem cinco milhões de barris diariamente poderá levar a uma escassez que obrigue o continente a recorrer às suas reservas estratégicas se o Ever Given não desencalhar rapidamente, alertou Caleia Rodrigues.
JN