Apesar da instalação de cabos submarinos para conectar o continente africano, o preço de um giga de dados de Internet móvel continua muito alto em média.
Embora a divisão digital de África esteja a diminuir, o custo da internet ainda patina, rala para diminuir. No dia 30 de junho, entrou em serviço a última secção do cabo submarino da Costa da África à Europa (ACE) – que liga França à África do Sul e conecta 10 países africanos, incluindo Senegal, Costa do Marfim e Gana.
É o exemplo mais recente que demonstra o progresso de África na cobertura da Internet : o cabo de 17.000 km de comprimento representou um investimento de US$ 700 milhões por um consórcio de 20 membros que incluiu o grupo francês Orange, que contribuiu com US$ 250 milhões.
Apesar desta boa notícia e do desenvolvimento de cabos submarinos ligando o continente, apenas 29% dos africanos têm acesso à internet em comparação com 45% das pessoas na Ásia, de acordo com o último relatório publicado pela Alliance for Affordable Internet (A4AI) em dezembro 2020.
Preço de um giga de dados móveis em 2020 (em dólares)
Anualmente, a iniciativa – hospedada pela Web Foundation e liderada por Sonia Jorge – colecta dados sobre os pacotes de banda larga pré-pagos mais baratos por país, com base no modelo de precificação fornecido pela União Internacional de Telecomunicações (UIT).
$ 5 por um giga de dados
Em 2020, o preço médio de um giga de dados móveis em África foi de mais de US$ 5 em comparação com quase US$ 7 em 2018, uma queda de 28%, diz a A4AI. Na União Europeia (UE), por outro lado, o preço foi de US$ 3,5 por giga em 2020 (US$ 4,1 em 2018).
Embora tenha havido um declínio significativo nos preços médios de dados de banda larga, ainda existem diferenças notáveis nos preços entre os países.
Na Guiné Equatorial, por exemplo, custa US$ 35 para obter um giga de dados móveis – a tarifa mais cara do mundo – segundo dados da A4AI. No entanto, o país está conectado a três cabos submarinos de fibra óptica.
Existem várias razões para este preço. Devido à sua pequena base de clientes, 1,3 milhão de habitantes em 2019, o custo de instalação de infraestrutura é mais difícil de recuperar.
Há também uma falta de concorrência que inevitavelmente aumenta os preços. Aliás, a empresa Getesa, 60% estatal, é a principal operadora do país.
Os próximos preços mais altos estão na Líbia, onde um giga de dados móveis custa US$ 11,4, seguido pelo RCA (US$ 10,4), Chade (US$ 8,64), República do Congo (US$ 8,47) e Togo (US$ 8,4). Na RDC, um giga de dados móveis custa US$ 8 em 2020, abaixo dos US$ 10,7 do ano anterior (-25%).
Em 2019, o governo da RDC definiu uma estratégia de desenvolvimento digital para 2025. No entanto, o tamanho do país o torna pouco atraente para as operadoras.
“Geralmente é mais difícil instalar e manter uma rede em regiões grandes e pobres porque os lucros potenciais serão menos atraentes para as operadoras”, disse Teddy Woodhouse, director de pesquisa da A4AI, durante uma entrevista em dezembro de 2020.
Sudão e Marrocos, campeões de preços baixos
Por outro lado, os países africanos com os preços mais baixos da Internet incluem o Sudão – onde um giga de dados de banda larga custa US$ 0,9 – seguido pelo Egipto (US$ 1,3), Marrocos (US$ 2), Ruanda (US$ 2,1) e Camarões (US$ 2,2). Custa $ 2,3 na Argélia, $ 3,28 no Senegal e $ 4,8 na Costa do Marfim.
No Marrocos, o preço passou de US$ 2 em 2019 para US$ 5 em 2020, um aumento de 61%, segundo dados da A4AI. Este é um dos resultados da estratégia Marrocos Digital 2020, que se concentrou na transformação digital e na redução do fosso digital do país.
Além das diferenças regionais, onde os preços são mais baixos na África Oriental e Ocidental do que na África Central e Austral, os preços dos dados também podem variar entre dois países vizinhos.
Em Angola, região austral de África, só 4 em 100 conseguem pagar 1 GB de internet por mês em Angola, e pelos últmos dados da Alliance é o 14.º país mais caro em África.
Dados apontam que até 2021, o custo médio de 1GB a valer 5,29 USD, na moeda nacional com um valor estimado em pouco mais de 3 mil kz. Com a entrada de um novo operador de telefonia móvel o cenário pode revertido.
Por exemplo, de acordo com a A4AI, o Chade é um dos países mais caros a US$ 8,4 por giga, enquanto sua vizinha Nigéria tem um dos preços de dados mais baratos a US$ 2,7 por gigabyte.
Internet acessível em apenas 14 países
Segundo a ONU, o acesso à internet é considerado acessível quando o custo de um giga é inferior a 2% da renda bruta mensal.
No entanto, no continente africano, os preços dos dados são 5,7% da renda mensal bruta, em comparação com 2,7% na América do Sul e 1,6% na Ásia-Pacífico. De fato, “apenas 14 dos 48 países africanos incluídos no ranking têm acesso à internet a preços acessíveis”, diz o relatório.
Por exemplo, no CAR, um gigabyte representa 24,4% da renda mensal, segundo a A4AI. Na RDC, representa 20,6% da receita, enquanto no Chade e no Togo chega a 15%.
Em contraste, no entanto, os preços dos dados são equivalentes a apenas 0,5% da renda mensal nas Maurícias, 0,8% na Argélia, 1,3% no Gabão e 1,4% no Gana.
THE AFRICA REPORT