É a primeira vez em quase dez anos que o sector ligado ao consumo lidera o ranking dos sectores com mais crédito bancário. Essa “ultrapassagem” aconteceu no mês de Junho, em plena crise cambial, e numa fase em que as importações estavam em queda.
Pela primeira vez desde 2014, o crédito a particulares superou o sector do comércio e lidera o ranking dos sectores com o maior stock de crédito na banca nacional, de acordo com as estatísticas monetárias e financeiras publicadas no site do Banco Nacional de Angola (BNA).
No final do I semestre, o crédito a particulares, associado ao consumo, cresceu 13% face ao final de 2022 para quase 1,1 biliões Kz, enquanto o stock de crédito ao comércio por grosso e a retalho caiu 14%, equivalente a menos 143,9 mil milhões Kz. Segundo apurou o Expansão, são os efeitos da desvalorização cambial a pesar na concessão de crédito ao sector onde se encontra a maioria das empresas nacionais.
Ainda de acordo com o crédito por sectores de actividade, comércio, privados e indústria transformadora valem mais de 50% do stock de crédito da banca nacional. Ou seja, por cada 1.000 Kz que os bancos têm emprestados à economia, 529 Kz estão concentrados no comércio, nos consumidores e a indústria nacional.
Por outro lado, a construção continua a perder fulgor, já que em seis meses o stock de crédito a este sector caiu 1% para 378,9 mil milhões Kz. Desde 2020, o stock de crédito do sector da construção já caiu 30%, equivalente a menos 164,0 mil milhões Kz.
Quase um quarto do stock de crédito da banca nacional está concentrado no sector produtivo, nomeadamente a indústria extractiva e transformadora, agricultura e pescas, com o conjunto destes três sectores a valerem pouco mais de 1,1 biliões Kz do crédito total. O stock do crédito nas indústrias transformadoras cresceu 1% no período em análise (+5,1 mil milhões Kz) enquanto o do agro-negócio (que engloba agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca) afundou 28% (-111,4 mil milhões Kz). Já o stock de crédito da indústria extractiva disparou 36% (+72,9 mil milhões Kz).
Se o crédito para o sector produtivo cresceu, o mesmo aconteceu no sector dos transportes e armazenagem, que registou uma subida de 31% para 100,3 mil milhões Kz (+23,8 mil milhões).
Em sentido contrário, a descer, destaque para os já referidos sectores do comércio e da agricultura, mas também para as actividades administrativas e dos serviços de apoio, cujo stock de crédito afundou 68% para 35,8 mil milhões Kz (-77,0 mil milhões) e para as actividades de Saúde Humana e Acção Social, que caiu 60% para 7,5 mil milhões Kz (-11,2 mil milhões), tratando-se dos sectores que mais caíram em termos percentuais em apenas seis meses.
Em termos gerais, o stock de crédito na banca subiu apenas 1% em seis meses, passando de 4,615 biliões Kz em Dezembro de 2022 para 4,648 biliões no final de Junho deste ano.
Expansão