O magnata nigeriano Aliko Dangote prepara-se para electrificar a sua frota logística com camiões movidos a Gás Natural Comprimido (GNC) e viaturas eléctricas, numa jogada estratégica que poderá colocar o seu império industrial na dianteira da transição energética africana.
Depois de erguer a maior refinaria privada de África, avaliada em 20 mil milhões de dólares, o empresário Aliko Dangote volta a surpreender o continente com um projecto multibilionário fora da indústria extractiva. O grupo Dangote está agora a investir pesadamente na renovação da sua frota logística, introduzindo camiões movidos a GNC e veículos eléctricos, com o objectivo de modernizar o transporte de combustíveis e reduzir a pegada ambiental do seu império industrial.
O plano inclui a importação de 4.000 camiões GNC da China, num investimento de ₦720 mil milhões (aproximadamente USD 500 milhões). Cerca de mil unidades já se encontram em território nigeriano, e as operações em larga escala deverão arrancar ainda este ano.
“África não pode ficar para trás”
Durante o lançamento oficial da nova frota, Dangote sublinhou que a mudança para energia limpa é inevitável e que, sem adaptação, África corre o risco de se tornar obsoleta.
“As coisas mudaram, e todos nós teremos de continuar a mudar. Se não o fizermos, tornamo-nos arcaicos”, declarou o bilionário, relatando que, fora do continente, carregar um Tesla custa apenas 20 euros por 500 km.
O empresário rejeita continuar a operar com camiões obsoletos e alerta para o risco operacional que representam: “Se houver um acidente causado por um camião defeituoso, ninguém pode vir pedir desculpas. É o nosso investimento que está em causa.”
Mobilidade eléctrica ainda é miragem, mas com imenso potencial
Apesar do entusiasmo, o mercado africano de veículos eléctricos ainda é embrionário. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), menos de 1% das vendas de automóveis no continente são eléctricos, contra 18% à escala global. Os entraves são múltiplos: infraestrutura de carregamento inexistente, custos elevados de importação, instabilidade energética e falta de produção local.
Ainda assim, África possui reservas estratégicas de cobalto e lítio, dois dos minerais mais críticos para a produção de baterias. Se bem aproveitada, esta vantagem pode posicionar o continente na cadeia de valor global.
A entrada da Dangote é um sinal ao continente
A aposta de Aliko Dangote é vista por analistas como um poderoso sinal político e económico. Sem apoio público e financiamento privado robusto, África continuará dependente de veículos poluentes e importações desnecessárias.
A experiência angolana espelha os mesmos desafios.
O país depende fortemente da importação de viaturas ligeiras e pesadas, sem qualquer política clara de incentivo à mobilidade eléctrica ou à produção local de componentes automóveis. A entrada de grandes grupos africanos neste sector deve servir de alerta às autoridades nacionais.
Análise Editorial | Correio Digital
A movimentação de Dangote é mais do que uma inovação logística — é um reposicionamento estratégico continental. Ao transitar de combustíveis fósseis para energia limpa na sua própria cadeia de valor, o bilionário nigeriano está a colocar a transição energética africana no centro da agenda empresarial.
Angola precisa de acompanhar esta dinâmica. A ausência de incentivos à mobilidade eléctrica, somada à dependência das importações, retira ao país qualquer capacidade de liderança na próxima fase da revolução industrial. A soberania energética começa por dentro: investimento local, produção africana e inovação tecnológica.
A pergunta que se impõe é: quando será que os grandes grupos empresariais angolanos (?) e o próprio Estado seguirão esse caminho?