Na última semana de 2022, João Lourenço indicou a lista de 45 conselheiros para o Conselho Económico e Social (CES) com apenas nove caras diferentes. Anunciado no último trimestre de 2020 como uma nova forma de aproximar a governação e o desenho das políticas públicas no País, a prática sobre a sua organização interna e sobre o impacto dos seus posicionamentos na política do País.
Entre os nomeados para o segundo mandato destaca-se a entrada de nove elementos (António Barros, António Macedo, Cristina Silvestre, Gualberto Campos, Henriqueta de Carvalho, Jinofla de Castro, Armando Manuel, Amadeu da Silva e Armando Manuel Valente) e a saída de alguns pesos-pesados do pensamento económico nacional, como são os casos de Carlos Rosado de Carvalho, Alves da Rocha ou Lago de Carvalho, para além do empresário Jaime Freitas, Filipe Zau , Maria Helena Miguel e Carlos Lopes ou do empresário João Macedo, entretanto falecido.
O Expansão falou com vários conselheiros e ex-conselheiros que sob anonimato, foram coerentes nas abordagens sobre os dois primeiros anos do CES: ao longo deste período, foram dedicadas inúmeras horas de trabalho sobre a organização interna, realidade que retirou algum foco sobre o objectivo principal do organismo.
Entre as opiniões mais críticas sobre o funcionamento do CES, alega-se que não faz sentido compor uma equipa de aconselhamento do PR com tantos membros . Se o objectivo é aconselhar e ajudar o PR a tomar melhores decisões sobre políticas públicas, a equipa poderia ser mais pequena e mais ágil na formulação das suas posições e propostas.
Cada sub-comissão tem a sua própria agenda e organiza as suas reuniões como melhor pretender. Por exemplo, a comissão da pasta social juntava-se semanalmente com uma agenda pré-definida e que não admitia alterações, facto que pode introduzir alguma rigidez no debate. Algumas fontes sugerem alterações a este nível, até para que seja possível abordar temas da actualidade que nem sempre constam da agenda.
Algumas fontes receiam também que possa existir alguma confusão entre o CES e o Conselho Nacional de Concertação Social, apesar de o CES não incluir nenhum representante dos sindicatos e dos trabalhadores (realidade que também origina críticas ao Governo e à composição do CES).
Por outro lado, alguns conselheiros admitem que o CES está pressionado pela falta de impacto visível nas políticas públicas, o que pode ter consequências na credibilidade do organismo aos olhos da sociedade.
É verdade que alguns temas foram introduzidos na agenda pública com influência directa das propostas introduzidas pelo CES, como seja o debate sobre o subsídio de emprego ou sobre a introdução das línguas africanas no sistema de ensino, só para citar dois exemplos. Aquelas e outras propostas foram apresentadas publicamente pelo CES em Julho de 2021.
A existência do CES, como foi divulgado em Setembro de 2021, permite que João Lourenço receba “contribuições da comunidade empresarial, das cooperativas, da comunidade científica e académica, das associações que se ocupam do desenvolvimento sócio-económico da mulher e dos jovens, assegurando assim uma participação mais activa destes nos aspectos de programação e de execução das tarefas do desenvolvimento nacional”.
O CES “é um órgão de reflexão de questões de especialidade macroeconómica, empresarial e social” para efeitos de consulta de matérias do interesse do Executivo”, salientava a Casa Civil em 2021, que sublinhava que este órgão autónomo não integra a Administração Pública.
Expansão