O preço do dólar norte-americano aumentou nos últimos dias nas ruas de Luanda. Um dólar está a ser transaccionado acima de 420 kwanzas, uma subida de 2,5% face à média da última semana. Os kinguilas garantem que o valor ainda vai disparar.
O custo de cada dólar no mercado paralelo atingiu máximos do ano em Janeiro, nos 500 kwanzas. Depois das eleições gerais de 23 de Agosto rondou os 370 kwanzas.
A taxa de câmbio oficial definida pelo Banco Nacional de Angola (BNA) mantém-se nos 166 kwanzas há mais de um ano e meio.
“Não temos dólares, não temos euros e não temos kwanzas. O mais certo é subir ainda mais nos próximos dias, porque há pouco”, disse hoje à Lusa um dos vendedores do bairro dos Mártires de Kifangondo. Essa zona do centro de Luanda foi apelidada de “Wall Street dos Mártires”, dada a quantidade de dólares transaccionados diariamente normalmente à vista de todos.
Por ali, tal como noutros bairros da capital angolana, como Mutamba, Maculusso e São Paulo, praticamente todos transaccionam hoje cada nota de dólar entre 410 e 420 kwanzas, conforme constatou a Lusa.
O aumento é justificado com a possibilidade de uma forte desvalorização do kwanza a curto prazo, a aproximação do período de festas e, sobretudo, o aumento da fiscalização policial aos kinguilas.
Só a falta de moeda nacional para completar as transacções está a travar uma subida mais acentuada, explicam.
Este negócio, apesar de ilegal e condenado pelo BNA, representa para muitos, angolanos e trabalhadores expatriados, a única forma de aceder a divisas, face às limitações nos bancos, funcionando a cotação de rua como referência para vários negócios.
O Presidente angolano, João Lourenço, ordenou a 20 de Novembro, ao novo comandante-geral da Polícia Nacional, comissário-geral Alfredo Mingas, para reforçar o combate ao negócio da venda ilegal de divisas nas ruas, por terem atingido “níveis preocupantes”.
Entretanto, já no sábado passado, o chefe de Estado foi mais longe. Garantiu que Angola tem divisas, só que estão fora do controlo do circuito legal. Lourenço criticou o facto de até agora “ninguém” ter feito “nada” para inverter o cenário.
“Há divisas em Angola, pelo menos em Luanda, só que estão fora das instituições próprias que deviam ter o controlo delas”, apontou.
Acrescentou que as divisas “não estão nos bancos, mas estão em locais perfeitamente identificados, mas que por razões que desconhecemos, todo o mundo sabe e ninguém faz nada.
Então, esta é uma das medidas [orientações ao banco central e polícia] que vai com certeza contribuir para que haja mais divisas disponíveis para a economia, de uma forma geral, e para outro tipo de necessidades”, disse.
Lusa