José Eduardo dos Santos optou pela TAP, a transportadora aérea portuguesa, para se deslocar a Espanha, para uma consulta médica, via Lisboa, em detrimento da TAAG, criando constrangimentos no Executivo de João Lourenço. E nem a intervenção pessoal do Presidente da República o demoveu.
Para além disso, o facto de o ex-Presidente da República ter recusado a TAAG, abrindo uma pesada excepção ao “protocolo” de Estado que, como sucede em todos os países do mundo, só na falta de alternativa viável é que Presidentes e ex-Presidentes recorrem a transportadoras estrangeiras, obrigou o Executivo a assumir publicamente o seu insucesso nas várias tentativas de o demover na decisão de embarcar na transportadora aérea portuguesa.
Face a esta posição inamovível de José Eduardo dos Santos, apesar de o Governo ter, ao longo das últimas semanas, procurado empenhadamente demover o ex-Chefe de Estado desta decisão, incluindo uma deslocação de João Lourenço a sua casa, no Miramar, a Casa
Civil do Presidente da República emitiu um comunicado a lamentar o sucedido.
“O Executivo lamenta profundamente tal atitude, cujas consequências não são da sua responsabilidade”, pode ler-se no comunicado divulgado na segunda-feira, ao final do dia, escassas horas antes de JES partir, na manhã de hoje (a entrar no avião da TAP, na fotograa), para Espanha via capital portuguesa.
Para o Presidente João Lourenço, como se lê no comunicado da sua Casa Civil, esta decisão de José Eduardo dos Santos – que, sublinhe-se, não justificou em momento algum, publicamente, a escolha da TAP – é “surpreendente” e acrescenta incómodo ao Executivo que se empenhou por diversas formas para o demover ao longo das últimas semanas.
Esta opção do ex-Presidente da Repúblicam diz o documento emanado da Casa Civil do PR, “contraria diligências protocolares e logísticas desencadeadas pelo Estado angolano nas últimas semanas, que pôs à sua disposição uma aeronave compatível com o seu estatuto”.
Isto, porque “tão logo o Executivo soube da intenção, por parte do ex-Presidente da República, de rejeitar a utilização do meio aéreo contratualizado, foram accionados todos os canais de diálogo e persuasão em ordem a prevalecer as normas e os princípios de protocolo atendíveis”.
E, depois de ser claro que JES estava inamovível na sua posição, o Presidente João Lourenço jogou o ás de trunfo, com a intervenção pessoal, findo a casa de José Eduardo dos Santos, mantendo-se a situação.
O documento informa ainda que se manteve o impasse, “mesmo depois de (na segunda-feira) pelas 17 horas, o Presidente da República, João Lourenço, se ter deslocado e falado com o ex-Presidente na residência deste, ao Miramar”.
Mas o Executivo, “respeitando em rigor o normativo que dene os direitos e regalias dos antigos Presidentes da República, o Executivo assegurou todos os aspectos logísticos e nanceiros relacionados com a atenção médica a que se submeterá o ex-Presidente José Eduardo dos Santos em Espanha”.
Recorde-se que as deslocações de JES a Espanha, para cuidados médicos, são uma constante dos últimos anos da sua governação, entre 1979 e 2017, e mantiveram-se a partir do momento em que foi substituído no cargo por João Lourenço, a 26 de Setembro de 2017.
NJ