Enquanto Isabel dos Santos se desdobra em entrevistas e diligências de relações públicas, na sua guerra declarada contra a actual administração da Sonangol, também demonstra total insensibilidade para as questões humanitárias do país.
Depois de 12 anos como presidente da Cruz Vermelha de Angola, Isabel foi destituída por quase ter destruído essa organização humanitária.
Mas a Isabel dos Santos só interessa mesmo o dinheiro e o poder da Sonangol. Se, como tem tentado convencer o mundo, é de facto tão boa gestora, porque não se justifica quanto ao seu mandato na Cruz Vermelha de Angola?
Desengane-se quem julgue que a turbulência na Sonangol é um caso isolado nas manigâncias gestionárias de Isabel dos Santos.
A verdade é que a “princesa” tudo quis acumular, e o resultado da apropriação de cargos e funções é que nada funcionou.
Deixemos, por agora, a questão da Sonangol para a Procuradoria-Geral da República, e concentremo-nos noutras aventuras de Isabel dos Santos.
Passou relativamente despercebido que os funcionários e voluntários da Cruz Vermelha angolana, dentro das suas atribuições estatutárias, destituíram Isabel dos Santos das funções de presidente daquela instituição.
Aparentemente, a gota de água foi uma queixa dos funcionários por terem 13 meses de salários em atraso. Contudo, conforme vimos há muito descrevendo nas páginas do Maka Angola, a inépcia de Isabel dos Santos na gestão da Cruz Vermelha é facto antigo (ver aqui e aqui).
Ao mesmo tempo que Isabel dos Santos fazia uma tempestade para demonstrar que a Sonangol lhe tinha pago apenas 17 dos 18 salários que lhe eram devidos, nem uma palavra proferiu sobre os funcionários da Cruz Vermelha, que deixou sem salários durante mais de um ano.
De facto, é preciso uma overdose de arrogância e de falta de sensibilidade para nem sequer perceber as contradições dos seus actos e intervenções públicas.
Em 2016, enquanto uma epidemia de febre-amarela arrasava milhares de famílias em Luanda e noutros pontos do país, a presidente da Cruz Vermelha, nas suas vestes de chefe da Unitel, recebia e pagava fortunas milionárias à cantora Nicki Minaj.
O dinheiro esbanjado com esta personagem bem teria servido para ajudar no combate à epidemia.
No início de 2017, já se sabia que a Cruz Vermelha vivia a sua pior crise de sempre, com acusações constantes de autoritarismo, corrupção e má gestão.
Os secretários provinciais queixavam-se de que os salários não eram pagos e a organização vivia numa balbúrdia.
Um dos altos funcionários provinciais da instituição referia-se assim à presidente: “Até 2006, as províncias tinham dotação orçamental trimestral para despesas correntes e actividades sociais”.
“Infelizmente, desde que a engenheira Isabel dos Santos assumiu funções, nesse ano, deixámos de receber um tostão de dotação orçamental. São os secretários provinciais que têm de tirar do seu bolso para cobrir as despesas correntes”.
Alguns adiantavam ainda que Isabel usava a Cruz Vermelha para fazer importações livres de impostos.
As actividades em que Isabel se superou como presidente da Cruz Vermelha foram, como sempre, as de relações públicas.
Os pontos mais conhecidos da sua gestão foram as galas de luxo para angariação de fundos para a Cruz Vermelha, trazendo a Luanda cantores famosos como Mariah Carey, John Legend e Craig David.
O problema é que não conhece o destino das receitas desses eventos. Por exemplo, o Relatório Anual referente a 2011 realçava, em relação a uma das festas, que “os proveitos da gala não podem ser determinados, porque a gestão directa do projecto é da responsabilidade da presidente da CVA [Isabel dos Santos]”.
O que temos aqui é um padrão da gestão de Isabel dos Santos: muito brilho, muitas relações públicas, muita conversa, mas, por debaixo do pano, desorganização, descuido, negligência, e acusações constantes de desvios e corrupção.
Na verdade, esperamos um novo website em que Isabel dos Santos falará da sua grande capacidade de gestão e dos milagres que fez à frente da Cruz Vermelha.
Explicará que encontrou uma organização a funcionar mal e conseguiu o milagre de a destruir por completo. Esclarecerá os angolanos acerca das razões estratégicas que levaram a que a Cruz Vermelha não se tivesse destacado em nenhuma das catástrofes humanitárias que, infelizmente, se têm repetido em Angola nos últimos anos.
No mesmo website sobre os factos da sua magnífica gestão da Cruz Vermelha, exporá ainda o grande problema com que se deparou: a falta de consultores que cobrassem milhões.
Se tivesse sido possível colocar os consultores milionários da Sonangol na Cruz Vermelha, então o milagre teria sido maior: em vez da Cruz Vermelha, já teríamos a Cova Vermelha, um imenso buraco de choro e ranger de dentes, doença e fome.
O problema de Isabel dos Santos não é a Sonangol. Não é sequer o pai. É querer ser quem não é. Isabel dos Santos não é gestora. É a filha de um ditador a quem foi oferecida uma fortuna.
A sua gestão na Cruz Vermelha é a prova dos nove.