Nas últimas semanas, muitas personalidades de Hollywood têm partilhado histórias de assédio sexual que envolvem homens poderosos da indústria. É uma realidade também no futebol feminino?
Claro que é. Assisti a isso ao longo de toda a minha carreira e gostava que mais atletas partilhassem as suas experiências. É algo descontrolado, e não apenas em Hollywood,
é-o em todo o lado. Durante anos, vi jogadoras que namoravam e acabaram por casar com os seus treinadores da universidade, algo que, obviamente, um treinador não devia fazer, sobretudo com futebolistas tão jovens. Vi situações com os médicos, com os assessores de imprensa, entre jogadoras no balneário…
Será que atingimos uma época de mudança na sociedade em relação a este tema? Sente que se abriu uma caixa de Pandora? Toda a gente sabia que isto acontecia há anos, na moda, no desporto, no mundo dos negócios, todos sabiam, mas ninguém falava sobre isso.
O Sepp Blatter [ex-presidente da FIFA] apalpou-me o rabo.
Desculpe?
O Sepp Blatter. Conhece o Sepp Blatter?
Claro que sim.
OK. Ele apalpou-me o rabo. [vira-se para a sua assessora, Melinda Travis, e pergunta] Posso falar sobre isto? Foi na entrega da Bola de Ouro há uns anos, mesmo antes de subir ao palco [Solo refere-se a janeiro de 2013, quando entregou o prémio para a Melhor Futebolista do Mundo à colega Abby Wambach]. É algo que se vulgarizou.
É interessante que diga isso. Algumas das vítimas têm sido criticadas por não terem falado antes. O que diria a essas pessoas?
Estou muito desapontada com as mulheres que não falaram sobre isto no mundo do desporto. Sim, toda a gente tem o direito às suas decisões pessoais, e, sim, é desconfortável, mas gostava que mais mulheres, sobretudo no futebol, falassem das suas experiências, porque algumas dessas pessoas ainda trabalham no futebol e algumas das jogadoras ainda têm esses comportamentos. É importante que percebamos que isto não acontece apenas com os poderosos homens brancos. Pode acontecer com qualquer pessoa, pode acontecer entre mulheres, pode acontecer em qualquer lugar. Estamos focados nos poderosos homens brancos, porque é provavelmente mais normal com eles, mas pode acontecer em qualquer lado.
Podemos mudar esta cultura? Ou não é assim tão otimista?
Acho que vai demorar algum tempo, mas também acho que as pessoas vão pensar duas vezes antes de fazerem certos comentários e, obviamente, antes de simplesmente… me apalparem o rabo.
Porque é que não falou antes desse episódio com Blatter?
Falo sempre diretamente com as pessoas envolvidas quando estas coisas acontecem. Por exemplo, já tive de dizer a companheiras minhas: “Não me toquem! Não o façam!” Já aconteceu nos chuveiros, nos balneários… No caso
de Blatter, estava nervosa antes da apresentação. Estava a apresentar a Bola de Ouro. Depois disso não voltei a vê-lo. Não tive oportunidade de confrontá-lo e dizer-lhe: “Não volte a tocar-me!”
Contactado pelo Expresso e pelo diário britânico “The Guardian”, Blatter, através do seu porta-voz, disse que a acusação de Hope Solo era “ridícula”
Expresso