A primeira unidade fabril de produção de ferro gusa verde do país, com a utilização de carvão vegetal como redutor no processo de fundição, foi inaugurada, esta quinta-feira, no Cuando Cubango), pelo ministro da Indústria e Comércio, Rui Minguêns de Oliveira.
Com este feito, implementado no município do Cuchi, 94 quilómetros da cidade do Menongue, sede do Cuando Cubango, Angola tornou-se, de forma oficial, no quarto país do mundo exportador de ferro, com uma capacidade de produção de 250 toneladas/dia.
A actividade de exportação de ferro gusa até então, era apenas protagonizada pela Federação Russa, Brasil e Ucrânia, embora com a utilização de recursos “inimigos do ambiente”, sendo o Brasil e Angola os únicos que fazem a utilização do carvão vegetal como redutor no processo de fundição de minério e livre de carbono (carbon-free).
Em declarações à imprensa, o ministro da Indústria e Comércio, Rui Miguêns de Oliveira, destacou que a primeira unidade fabril representa o compromisso do Estado Angolano em materializar o processo da diversificação da economia, de forma sustentável e proporcionar o bem-estar da população.
Assegurou que o governo está comprometido com a realização das aspirações de todos os angolanos, daí ter escolhido o caminho da diversificação económica como meio para garantir a criação sustentável do emprego, riqueza material e espiritual, para além de garantir um futuro melhor para as gerações presentes e vindouras.
Rui Miguêns de Oliveira destacou que a construção de uma Nação de bem-estar para todos requer trabalho dos seus cidadãos, visão e coerência dos seus líderes a todos os níveis: famílias, comunidades, empresas, associações até aos mais altos dignitários do Estado.
Fez saber que, nesta primeira fase, a fábrica gerou mil e 200 empregos directos e pode chegar aos cinco mil.
Sobre o projecto
Ao apresentar o projecto, o presidente do Conselho de Administração da CSC, Rui Celso, disse tratar-se de um projecto integrado, implantado numa área total de 62.500 hectares, onde a parte fabril ocupa 2.500 hectares e os demais 60 mil estão destinados a silvicultura, com replantio de eucalipto e aproveitamento do material lenhoso, garantindo assim a sustentabilidade do meio ambiente.
Dos 60 mil hectares, explicou, 20 mil hectares foram destinados a um acordo de parceria, celebrado com o Ministério da Defesa Nacional e Veteranos da Pátria, cujo objectivo fundamental é a transmissão de conhecimento aos ex-militares e antigos combatentes, para serem fornecedores do projecto, garantindo uma nova oportunidade de vida aos mesmos, com o benefício de uma renda mensal, resultante da venda da sua produção.
Informou que do mesmo foi percorrido um longo e árduo caminho, com a realização de diversas acções e estudos, em particular na mina do Cutato, que confluíram de forma positiva para que a equipa técnica formada por angolanos e brasileiros tivessem bons indicadores de ferro e um período promissor de exploração superior a 50 anos.
“Aqui onde nos encontramos, realizou-se a etapa da implantação hoje concluída com a instalação do primeiro alto-forno, com a capacidade de produção de 100.000 toneladas de ferro gusa por ano, com tecnologia brasileira, a única no mundo capaz de produzir ferro gusa verde, a partir do carvão vegetal”, sublinhou.
Informou que o projecto comporta duas fases, a primeira já terminada e em produção experimental desde 1 de Maio de 2023, com um investimento realizado de 90 milhões de dólares norte-americanos e 1.200 postos de trabalho directos criados.
Relativamente a segunda fase do projecto, está previsto o início da sua implantação no segundo semestre de 2024 e comportará a instalação de mais três alto-fornos, com a capacidade de produção de 140.000 toneladas por ano, cada um, estimando-se realizar nesta fase um investimento de 260 milhões de dólares norte americanos e ainda a criação de mais quatro mil postos de trabalho.
Realçou que, actualmente, o Brasil e Angola são os únicos países do mundo que produzem ferro gusa verde a partir de uma fonte de energia renovável, portanto, “ Angola figura já no mapa do mundo como país produtor de ferro gusa verde”.
Na vertente logística, consdiderando que a produção da CSC é destinada a exportação, contamos com condições de excelência, facilitadas pela localização em relação as fontes de obtenção de insumos e face a proximidade da linha férrea, para o transporte do produto acabado até ao porto do Namibe.
Conforme o gestor, na vertente económica a produção da CSC contribuirá seguramente para o superávit da balança comercial do país, bem como terá um importante papel no desenvolvimento socio-económico da província do Cuando Cubango e em particular para o município do Cuchi.
Abertura ao investimento privado
O governador do Cuando Cubango, José Martins, reafirmou a abertura das autoridades locais ao investimento privado, realçando as diferentes potencialidades faunísticas e florestais, para além de ser abundante em recursos hídricos e minerais.
O governante afirmou que o seu pelouro vai conceder todas as facilidades legalmente estabelecidas para os empresários que queiram contribuir para o desenvolvimento da província, por meio de projecto que concorrem para a criação de empregos para a juventude e não só, bem como para a melhoria das condições de vida das populações de forma geral.
José Martins sobre a fábrica de ferro ora inaugurada, disse ser uma mais-valia para o governo local, tendo em conta o número de postos de emprego criados, maioritariamente para a juventude local, tendo por isso agradecido a direcção da empresa e os seus fundadores pela trajectória percorrida e os passos conquistados.
A actividade CSC teve início no ano de 2015, com a construção, montagem e apetrechamento da Siderurgia, sendo que a exploração da mina e a extracção do minério de ferro começou em Fevereiro deste ano, estando envolvidos 163 colaboradores directos e indirectos, dos quais 5 expatriados.
A Companhia Siderúrgica do Cuchi é uma empresa de direito angolano, criada ao abrigo do Decreto Presidencial n.º 18/15, de 20 de Abril. Tem como objecto a exploração de minério de ferro, bem como transformação e a comercialização de ferro gusa, principal matéria-prima para a produção de aço e ferro fundido, incluindo a importação e exportação de produtos siderúrgicos.
Está localizada na província do Cuando Cubango, com a siderurgia no município do Cuchi e a mina na comuna do Cutato.
ANGOP