Especialistas são unânimes em afirmar que o Executivo forçou a apreciação do Kwanza em tempos pré-eleitorais. Os benefícios passaram por baixar preços e exacerbar os resultados de políticas que permitiram ao país uma redução substancial do seu rácio da dívida sobre o PIB.
Após as eleições gerais, o Kwanza inverteu a tendência de apreciação em que recuperou 29% face ao dólar e 47% face ao euro desde o início de 2022, tendo depreciado desde Agosto 12% face a estas duas moedas estrangeiras.
A política cambial iniciada em 2018 que visava a flexibilização da moeda, teve como principal consequência a depreciação do Kwanza face ao dólar e ao euro, uma tendência que durou até meados de 2021,onde se começou a assistir à subida dos preços do petróleo nos mercados internacionais, o que permitiu ao Tesouro a captação de mais receitas em moeda norte-americana.
Com a subida das receitas fiscais o mercado cambial foi “inundado” de moeda estrangeira, o que foi fundamental para valorizar o Kwanza e permitir o aumento das importações com vista a travar a subida dos preços no país. “
Acabou por dar algum jeito também a apreciação do Kwanza para o cálculo do rácio da dívida pública, já que quanto mais a moeda nacional estiver valorizada maior é o PIB nominal, pelo que desta forma este rácio rondava os 60% do PIB no primeiro semestre deste ano, o que já não acontecia desde 2015, tendo inclusive chegado a bater o recorde de 135,1% do PIB em 2020.
Agora, a manter-se a depreciação do Kwanza, estes 60% do rácio dívida/PIB dificilmente se manterão até final do ano, já que segundo a Estratégia de Médio Prazo da Dívida 2022-2024, 83,4% da dívida angolana está exposta ao risco cambial.
Para o director do Centro de Investigação Económica da Faculdade de Ciências Económicas da Universidade Lusíada de Angola (CINVESTEC), Heitor Carvalho, no período pré-eleitoral em que se verificou uma alta dos preços do petróleo o Executivo acabou por usar as receitas para subsidiar o consumo, baixando os preços dos bens alimentares e também dos produtos intermédios (matérias-primas utilizadas na produção) em vez de se criar reservas, o que potenciou agora um consumo completamente desproporcional à nossa produção de bens finais e uma dependência cada vez maior dos rendimentos do petróleo.
“Quando estes (rendimentos) baixarem entraremos de novo numa longa recessão. Em vez de aprendermos com os erros, repetimos tudo o que não devíamos ter feito de 2012 a 2014”, salienta o economista
Wilson Chimoco, admite que estão dados todos os sinais para que o Kwanza volte a cair para valores acima dos 600 Kz por dólar nos próximos tempos. “Por um lado, porque ainda não temos uma estrutura de exportações que aguente as necessidades de financiamento externo do País e à medida que o preço do petróleo cair e o serviço da dívida pública externa tornar-se mais regular este facto vai-se agravar.
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