A leitura de números grandes costumeiramente tem se revalado ser um verdadeiro entrave para a imprensa nacional, a excepção de alguns títulos de especialidade económica, no que toca a veiculação precisa dos montantes acometidos em muitos documentos do Estado tornados públicos como é o caso do OGE.
Este facto fica bem mais evidente quando dá-se início ao processo de aprovação de algum Orçamento Geral do Estado. A confusão acontece vezes sem conta quando os números ultrapassam os milhões dando sequência aos mil milhões que é recorrentemente lido como bilhões (padrão norte-americano) e se for mil biliões é grafado como triliões, facto, são os números actuais do OGE 2018.
O engraçado é que este é um problema que NÃO afecta apenas a imprensa. Até mesmo instituições como o Parlamento angolano no processo de aprovação e divulgação de documentos com números “astronómicos” a leitura correcta dos números constitui-se num acto de bravura.
Com a finalidade de esclarecer, educar e suscitar debate no espaço público a volta desta temática o Correio Digital retoma o artigo dos economistas, Dorivaldo Pedro e Gorete Capilo Leitão.
Nomenclatura dos grandes números em Angola
As televisões, as rádios, os jornais, bem como as redes sociais têm relatado os dados do OGE-2018 na ordem dos triliões de Kwanzas.
Entretanto, aqueles dados encontram-se na ordem dos biliões de Kwanzas. Este erro é comum em documentos oficiais, na imprensa e na academia.
Até mesmo lincenciados furtam-se a abordar sobre o assunto, achando-o complexo. Porém, não é. E cabe fundamentalmente a esta classe ajudar a sociedade a compreender estes fenómenos, aparentemente complicados.
Voltando a questão:
Não tendo Angola aderido ao acordo ortográfico, devemos redigir e ler os grandes números de acordo com os parâmetros definidos nas seguintes portarias:
(Entenda-se como Portaria, no âmbito do Direito administrativo, acto jurídico originário do Poder Executivo, que contém ordens/instruções acerca da aplicação de leis ou regulamentos, recomendações de caráter geral e normas sobre a execução de serviços, a fim de esclarecer ou informar sobre actos ou eventos realizados internamente em órgão público. Fonte: Wikipédia)
– Portaria nº 17 052, do Ministério da Educação de Portugal, Iª Série-Número 49, de 4 de Março de 1959.
– Portaria nº 17 053, do Ministério da Educação de Portugal, Iª Série-Número 49, de 4 de Março de 1959.
– Portaria nº 17 640, do Ministério da Ultramar de Portugal, Iª Série-Número 65, de 19 de Março de 1960. Ordena a aplicação das portarias acima em todas províncias ultramarinas, o que incluía a Província Ultramarina de Angola.
Assim, salvo outro ou melhor entendimento, até a presente data, a nomenclatura dos grandes números que deve ser adoptada em Angola, para dados oficiais, é a seguinte:
– 1 000,00 => Mil;
– 1 000 000,00 => Milhão;
– 1 000 000 000,00 => Mil Milhões;
– 1 000 000 000 000,00 => Bilião;
– 1 000 000 000 000 000,00 => Mil Biliões;
– 1 000 000 000 000 000 000,00 => Trilião.
Desta forma, conforme a informação veiculada, pelos orgãos de comunicação, 9,6 triliões de Kwanzas, corresponde a:
Kz 9 600 000 000 000 000 000,00
Quando o correcto deve ser 9,6 biliões de Kwanzas, correspondente a:
KZz 9 600 000 000 000,00
Parece negligenciavel, mas para termos uma ideia da gravidade da situação, este erro equivale dizer que o Orçamento do Estado será 10 mil vez superior ao PIB de Angola: Um disparate.
Caso se queira cair na tentação de usar a nomenclatura brasileira ou americana (por se achar mais simples) – errado, quando se tratar de dados oficiais Angolanos, é preciso que se tenha atenção na escrita, pois os termos – Mil milhão; bilião, trilião, etc.- deixam de existir, e ou dão lugar a outros termos “parónimos”, isto é, com grafia semelhante, mas significados diferentes, nomeadamente, bilhão e trilhão, respectivamente.
Sendo assim a nomenclatura brasileira/americana dos grandes números:
– 1 000 => Mil;
– 1 000 000 => Milhão;
– 1 000 000 000 => Bilhão;
– 1 000 000 000 000 => Trilhão.
De modos a evitar ambiguidades na imprensa nacional pública, no ensino público, bem como nos relatórios oficiais publicados pela administração pública, seria fundamental que o governo (do sector da educação e/ou finanças) elaborasse uma nota informativa definitiva sobre este assunto.