Se nos últimos anos o BPC empurrou os lucros da banca para baixo, nos primeiros dois trimestres deste ano o gigante público contribuiu para o aumento dos lucros. Os resultados foram influenciados pelo crescimento dos títulos de dívida pública, que representam metade do activo agregado da banca.
Os lucros dos 20 bancos que apresentaram os balancetes do II trimestre de 2023 até esta quarta-feira cresceram 113% para 377,2 mil milhões Kz no primeiro semestre face ao período homólogo, segundo cálculos do Expansão com base nos balancetes trimestrais divulgados pelas instituições bancárias.
Os números foram, por um lado, influenciados pelos resultados do Banco de Poupança e Crédito (BPC) que passou de prejuízos de 68,5 mil milhões Kz para lucros de 18,9 mil milhões Kz nos primeiros seis meses do ano. Durante sete anos, o gigante público apresentava os maiores prejuízos, levando para baixo os resultados agregados da banca nacional.
Contas feitas, 19 bancos registaram lucros e apenas o VTB contabilizou prejuízos avaliados em 2,9 mil milhões Kz,o que contrasta com os lucros de 2,6 mil milhões contabilizados no I semestre do ano passado. Dois bancos estão de fora destas contas, o Económico e o Standard Chartered Bank Angola, que até esta quarta-feira, ainda não tinham publicado balancetes do II trimestre de 2023 nas suas páginas da internet, contrariando assim a regulamentação do Banco Nacional de Angola (BNA).
Os resultados da banca também foram influenciados pelo crescimento dos activos dos bancos, sobretudo, pelo aumento das aplicações em títulos de dívida pública, que continuam a concentrar grande parte dos investimentos dos bancos, já que representam 37% do total dos activos da banca comercial.
Tal como entende o economista Mateus Maquiadi, no geral, o crescimento dos lucros foi, sobretudo, impulsionado pelo “uso mais intenso dos títulos e valores mobiliários que cresceram em média 32% e também pelo crescimento da liquidez no sistema, que cresceu a uma média de 57%, o que estará em linha com a própria evolução do M0. Essas duas rubricas representam cerca de 73% do activo da banca”.
Assim, para o economista, o crescimento mais intenso das operações com títulos e valores mobiliários continua a estar associado ao facto de o mercado não dispor de muitas alternativas que sejam seguras e viáveis em termos de investimento.
“Se retirarmos os títulos do Estado, praticamente não existirá mercado nenhum e os bancos, por hora, são as instituições com mais liquidez para os adquirir. Dando nota também que em termos homólogos as necessidades de financiamento do Estado aumentaram e, portanto, está a financiar-se muito mais, o que quer dizer que os bancos estão a comprar muito mais títulos do que no ano passado”, apontou.
Na entrevista da edição 730 do Expansão, o presidente da Associação Angolana de Bancos (ABANC), Mário Nascimento, afirmou que o maior financiador do Estado é o sector bancário, por isso entende que “não é razoável que alguém espere que os bancos deixem de aplicar em títulos”.
” Internamente, o maior financiador do Estado é o sector bancário. E do ponto de vista macroeconómico e de equilíbrio não faz sentido que os bancos mantenham recursos ociosos, porque existe uma presunção de que os bancos não devem aplicar em títulos, é uma ideia errada que se tem”, disse. Entretanto, Mário Nascimento destacou que os bancos têm responsabilidades em disponibilizar recursos para o sector privado, mas sem descurar que o País está num contexto em que o Estado é um dos mutuários que vai à banca buscar dinheiro, e os bancos têm de rentabilizar os seus activos.
Contas feitas, a carteira de títulos e valores mobiliários dos 20 bancos cresceu 40%, passando de 5,2 biliões Kz para 7,3 biliões no I semestre deste ano face ao período homólogo. Trata-se, em parte, do efeito da desvalorização do kwanza face ao dólar, já que os títulos indexados a moeda estrangeira, quando convertidos para moeda nacional para efeitos de contabilidade dos balancetes, faz com que o valor dessa dívida titulada tenha crescido.
O BAI (1,9 biliões Kz), o BFA (pouco menos de 1,1 biliões) e o BPC (979,3 mil milhões Kz, maioritariamente devido aos aumentos de capital feitos com títulos) lideram o ranking dos que mais detêm dívida pública na banca nacional.
Expansão