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Lucros do Fundo Soberano recuam 12%: ganhos menores, activos maiores e forte dependência do Estado

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Apesar do crescimento dos activos para quase 4 mil milhões de dólares, o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) viu os seus lucros líquidos recuarem 12% em 2024, sinalizando um ano de menor rentabilidade e elevada dependência de recursos do Estado. Especialistas alertam para os riscos de sustentabilidade e para a urgência de uma gestão mais estratégica do portfólio nacional.

O Fundo Soberano de Angola (FSDEA) encerrou o exercício económico de 2024 com um resultado líquido de 175,8 milhões de dólares, o que representa uma queda de 12% face aos 199,3 milhões registados em 2023. Os dados constam do mais recente Relatório e Contas da instituição, publicado esta semana.

Apesar da redução nos lucros, o Fundo registou um crescimento de 5% nos activos totais, atingindo 3.990 milhões de dólares, enquanto os capitais próprios ascenderam a 3.985 milhões de dólares. Este desempenho positivo nos activos, embora contrastante com a quebra nos resultados líquidos, reflecte uma estratégia de reforço patrimonial do fundo.

A rentabilidade líquida dos investimentos baixou para 10%, uma redução de 1 ponto percentual em comparação com 2023. Já os investimentos alternativos, que incluem sectores como agricultura, mineração, hotelaria e saúde na África Subsariana, apresentaram um retorno de apenas 5%.

Em termos de rentabilidade sobre activos e capitais próprios, verificou-se igualmente uma descida, de 5,2% para 4,4%, espelhando a redução do desempenho global do fundo num contexto de volatilidade internacional.

Dependência estrutural do Estado

Um dado que merece destaque é a elevada exposição do FSDEA ao Estado angolano, com valores a receber no montante de 1.444 milhões de dólares, o que representa cerca de 36% do total dos activos. Esta dependência levanta preocupações quanto à autonomia do fundo e à solidez das suas fontes de financiamento.

Composição da carteira e orientações de investimento

A carteira total de investimentos do FSDEA atingiu 2.434 milhões de dólares, dos quais 71% correspondem a activos líquidos. Destes, 43% estão aplicados em acções, sobretudo na América do Norte, com forte incidência nos sectores tecnológico e financeiro. Outros 30% correspondem a dívida soberana e corporativa e 16% a fundos de investimento diversificados.

Nos chamados investimentos alternativos, no valor de 704 milhões de dólares, o Fundo reafirma a aposta em sectores estratégicos da diversificação económica, com destaque para a avicultura, fertilizantes e indústria farmacêutica. Em 2024, foram estruturados três projectos avícolas e dois na área de fertilizantes, para além de parcerias com projectos farmacêuticos localizados no Huambo e na Zona Económica Especial Luanda-Bengo.

No último trimestre de 2024, o FSDEA investiu 52 milhões de dólares em Instituições Financeiras Multilaterais, com o objectivo de reforçar a diversificação da carteira e facilitar o acesso a grandes projectos de infra-estrutura e comércio regional.

Ainda em Outubro de 2024, o Fundo investiu 20 milhões de dólares na FG Gold Limited, empresa de exploração de ouro com sede na Serra Leoa, tornando-se o primeiro accionista institucional da mina, vista como um dos maiores projectos de desenvolvimento aurífero em África.

LUSA

Análise Editorial: entre a rentabilidade e a missão rstratégica

A quebra nos lucros do FSDEA, ainda que moderada, acende um alerta sobre o equilíbrio delicado entre crescimento patrimonial, diversificação de investimentos e a eficácia da estratégia de retorno económico. O fundo apresenta resultados mistos: activos mais robustos e investimentos geograficamente diversificados, mas uma rentabilidade em ligeira erosão e uma dependência estrutural significativa do Estado.

  1. Risco de fragilidade institucional

O facto de mais de um terço dos activos estarem na rubrica “valores a receber do Estado” compromete a credibilidade do Fundo como actor autónomo e resiliente. Esta situação, se não for revertida, poderá reduzir a capacidade de intervenção do FSDEA em momentos críticos da política económica.

  1. Impacto na economia real

Os investimentos do Fundo em sectores estratégicos como a agricultura, saúde, fertilizantes e indústria farmacêutica alinham-se com as prioridades da diversificação económica angolana, reforçando cadeias produtivas e promovendo algum grau de industrialização. Contudo, a sua escala ainda é limitada, se comparada às reais necessidades de financiamento de projectos estruturantes.

  1. O desafio da rentabilidade sustentável

Ao mesmo tempo que diversifica os investimentos e aloca recursos a sectores de médio e longo prazo, o Fundo precisa de melhorar a taxa de retorno, especialmente num contexto global cada vez mais exigente para fundos soberanos. A actual rentabilidade de 10% poderá não ser suficiente para justificar os riscos assumidos.

Conclusão: Um fundo soberano à procura de equilíbrio estratégico

O desempenho de 2024 evidencia um FSDEA em fase de transição estratégica. Com lucros a recuar e activos a crescer, o fundo precisa agora de consolidar uma abordagem de investimentos mais eficiente, transparente e com impacto mensurável na economia real angolana. A diversificação é um caminho sem retorno, mas exige um rigor técnico que compatibilize retorno financeiro, estabilidade institucional e contribuição efectiva ao desenvolvimento do país.

Editor
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O Site Correio Digital tem como fim a produção e recolha de conteúdos sobre Angola em grande medida e em parte sobre o mundo para veiculação. O projecto foi fundado em 2006.

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