De forma seca e fria com uma expressão facial compenetradamente conivente com a explícita inverdade de que não tinha qualquer laço com a Consultora das consultoras, a Matter, Isabel dos Santos respondia assim a incontornável e jornalística pergunta de Celso Filipe.
A então “filha da fortuna”, teve de mentir que não tem qualquer ligação com a Matter… consentindo, porém que a mesma Matter esteve de facto a gerir o complexo esquema de consultorias. A SIC e o Expresso revelaram os laços ocultos de Isabel e a Matter.
“Todas esta coordenação complexa de consultorias tinha um coordenador, que é a empresa Matter“, confirmava Isabel dos Santos.
Este esquema visava ironicamente tirar a Sonangol do leito dos cuidados intensivos atendendo ao colapso hemorrágico das fugas bilionárias que, desde outrora, fora vítima.
Todavia, contra as expectativas do pai (será?) que a colocara para o resgate da empresa a “a filha da fortuna” usurpou milhares de milhões da Sonangol com consultorias. A Matter era a distribuidora dos jogos.
Hoje, depois da reviravolta, a “filha da fortuna” diz que a decisão do Tribunal de Luanda de arrestar os seus bens é um acerto de contas contra a sua família. Será?
“As minhas empresas foram condenadas à morte”
Uma boa parte do dinheiro da Sonangol fez um trajecto muito peculiar: saiu de uma conta da petrolífera angolana no Eurobic em Lisboa, passou pela conta da consultora distribuidora das jogadas Matter no Dubai.
E voltou depois para a capital portuguesa, distribuído por uma série de contas em diversos bancos.
Um dos argumentos usados por Isabel dos Santos para recorrer a uma empresa intermediária no Dubai foi porque isso poupou dinheiro à Sonangol.
Mas não teria sido mais fácil e mais barato a Sonangol pagar diretamente às consultoras, sem a necessidade do dinheiro sair de Lisboa?
A DESAVERGONHADA TEIA DE CONFLITOS DE INTERESSE
Um total de 20 milhões de dólares do dinheiro saído da Sonangol foram distribuídos pela Matter, a consultora que Isabel negara escandalosamente ter qualquer ligação, por várias pequenas consultoras e empresas em Portugal.
Dentre as pequenas consultoras destacam-se aquelas que têm relações directas com Isabel dos Santos.
Houve 1,9 milhões de dólares transferidos para a Fidequity e para a Santoro, sendo que ambas pertencem à empresária e ambas, mais uma vez, eram dirigidas porMário Leite da Silva.
Outros 3,4 milhões de dólares foram transferidos para a sucursal portuguesa da Youcall, uma empresa de recursos humanos angolana em que Isabel dos Santos detinha uma quota de 70% e Paula Oliveira os restantes 30%.
Esse valor faz parte de um total de 6,2 milhões de dólares pagos pela Matter a três companhias ligadas à acionista portuguesa da companhia offshore do Dubai.
As outras duas, a SDO Consultores e a PCFCNO, são controladas apenas por Paula Oliveira e receberam 1,1 milhões e 1,7 milhões de dólares, respetivamente.
A PCFCNO, que teve direito à maior fatia, representa o nome completo da empresária, Paula Cristina Fidalgo Carvalho das Neves Oliveira.
A PCFCNO é uma empresa com apenas um funcionário e que foi incorporada na ilha da Madeira em agosto de 2017, três meses antes de receber o dinheiro do Dubai.
Hoje, a sócia escolhida de Isabel, a Paula Oliveira, nega ter sido “testa de ferro de quem quer que seja”.
Sendo que “a prestação de serviços à Sonangol, quer directamente quer através da Matter, inseriu-se numa lógica puramente empresarial, racional e de aproveitamento de uma oportunidade de negócio muitíssimo atraente”. Claro!
Segundo a empresária, “todo o dinheiro que a Matter facturou e recebeu da Sonangol era-lhe devido.”
E “a insinuação de que não foram prestados os serviços que foram faturados pela Matter à Sonangol é não só insultuosa” como “é profundamente falsa”.
Por último, foram ainda pagos através do Dubai 11,5 milhões à Odkas, uma outra consultora sediada na Madeira e que é detida em 49% pela mulher de Mário Leite da Silva, o ponta de lança de Isabel dos Santos.
A Odkas prestou serviços relacionados com o software de gestão (SAP) da Sonangol, e em Angola tem, há anos, tantas empresas que prestam esse tipo de serviço.
Carlos Russo, acionista maioritário e administrador da consultora, nega que a Odkas tenha sido selecionada pelo facto de a sua sócia ser casada com o administrador da Matter.
“A Odkas tem uma equipa, um historial de projectos bem-sucedidos e um conjunto de competências que a diferenciava positivamente e, estamos em crer, fazia de nós a entidade certa para a função.”
A VERDADE DA MENTIRA ESTÁ NESTA CONCLUSÃO DO JORNAL EXPRESSO
Seja como for, o que as contas da empresa mostram é que o dinheiro do Dubai fez toda a diferença. De 2016 para 2017, a faturação da Odkas mais do que duplicou. E no ano seguinte caiu quatro vezes.
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