Mia Couto disse que os países africanos de língua portuguesa “estão no grau zero de conhecimento cultural mútuo”.
Falando em Cabo Verde no âmbito do festival literário Morabeza, o autor de “vozes anoitecidas” argumentou que continua a existir um triângulo tipicamente colonial no seu relacionamento.
Mia, sublinhou a quase inexistência de trocas no domínio da literatura e do fraco conhecimento em outras áreas, ressalvando a excepção cabo-verdiana na música. “Cabo Verde ė um grande centro de exportação de música”, disse.
Mia Couto elogiou a decisão da futura presidência cabo-verdiana da CPLP (Julho próximo), de eleger como prioridade, a criação de um mercado comum de arte e cultura lusófonas.
O mais consagrado escritor da terra irmã do Índico, referiu ainda que no mundo da língua portuguesa também faz falta a figura de editor, como há na literatura anglo-saxönica.
Agraciado com o Prémio Camões em 2013, Mia Couto considera que este prémio ė uma grande iniciativa mas falta fazer qualquer coisa em conjunto para ter prestígio e reconhecimento internacional.
“Há que investir para o Prémio Camões ter outra visibilidade, os africanos devem ter outra atitude e participar no seu financiamento”, argumentou.
Mia referiu ainda que a notícia do vencedor do Prémio Camões praticamente não existe no Brasil, onde não tem reconhecimento e nos países africanos, ganha destaque, se for um africano, o distinguido.
Recordo que Pepetela ganhou o ” Camões” em 1997. Em 2006 outro consagrado escritor angolano o ganhou, mas recusou receber alegando “razões pessoais e íntimas” mas três anos depois, Luandino Vieira admitia que recusara o maior prémio literário de língua portuguesa, por ter estado 30 anos sem escrever um livro e por não gostar de dinheiro.
Preso na cadeia colonial durante 10 anos, Luandino Vieira, também documentarista, ė autor de entre outras obras, de ” A vida verdadeira de Domingos Xavier” e o “Livro dos Guerrilheiros”.