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“Mourinho está a matar o futebol. O futebol que o United joga é uma porcaria”

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Bryan Roy é a última voz crítica que se levantou contra José Mourinho. Em entrevista ao “Daily Mirror”, o antigo avançado holandês foi desassombrado nas palavras que usou para qualificar o treinador português do Manchester United.

“Mourinho não pensa nos fãs, ele pensa apenas nos resultados e isso tem de parar. Ele está a matar o futebol. Olhem para o Manchester United… O futebol que eles jogam é uma porcaria. É horrível.

Como é que vamos comparar isto com o tempo do Sir Alex Ferguson? O que é que está a acontecer? Estamos todos loucos? Está toda a gente a ficar maluca?

Não posso acreditar nisto. Isto é o Manchester United. O futebol é para os fãs, não é para o dinheiro. O dinheiro vem com isso, porque sem futebol não é nada. A primeira coisa a considerar deve ser como praticar um futebol que entretenha”

Depois, quando confrontando com as críticas à pobre exibição da equipa na derrota frente ao Sevilha (2-1), em Old Trafford, Mourinho recorreu ao papel que tinha na mesa e falou sobre o histórico europeu do clube nas competições europeias. E falou. E falou. Durante 12 minutos. Sobre a ‘herança futebolística’, um conceito que o treinador português já tinha explicado em entrevista à Tribuna Expresso, depois de conquistar a Liga Europa.

O último treinador a tocar no caneco da Liga Europa foi José Mourinho, com o Manchester United.

O último treinador a tocar no caneco da Liga Europa foi José Mourinho, com o Manchester United.

 

MIKE HEWITT

“Os adeptos são os adeptos e têm direito às suas opiniões, mas há algo a que chamo ‘herança futebolística’. Tento traduzir do meu português, que é quase perfeito, para o meu inglês, que é tudo menos perfeito: a ‘herança futebolística’ é o que um treinador herda”, começou por explicar.

“É algo como saber que o Manchester United ganhou a Liga dos Campeões – o que não aconteceu muitas vezes – pela última vez em 2008. E, desde 2011, foi assim: em 2012, foram eliminados na fase de grupos, praticamente com o mesmo grupo que tivemos esta época, Benfica, Basileia e Galati, da Roménia.

Em 2013, foram eliminados nos oitavos-de-final, em Old Trafford, e eu estava no banco do adversário.

Em 2014, foram eliminados nos quartos-de-final.

Em 2015, nem sequer estiveram na Europa.

Em 2016, no regresso às competições europeias, foram eliminados na fase de grupos, foram para a Liga Europa e foram eliminados depois de duas rondas.

Em 2017, na Liga Europa, ganhámos a competição, comigo, e regressámos à Liga dos Campeões.

Em 2018, fazemos uma fase de grupos com 15 pontos em 18 possíveis e perdemos em casa nos oitavos-de-final.

Portanto, em sete anos, com quatro treinadores diferentes: uma vez não se qualificaram para as competições europeias, foram eliminados da fase de grupos duas vezes e o melhor foi chegar aos quartos-de-final. É isto a ‘herança futebolística'”, especificou.

Depois, Mourinho virou-se para as competições internas. “Se olharmos para a Premier League, o último título foi em 2012/13 e depois terminaram em 4º, 6º e 7º. Portanto o melhor, nos últimos quatro anos, foi o quarto lugar. É isto a ‘herança futebolística'”, disse, exemplificando com o Real Madrid, que orientou entre 2010/11 e 2012/13.

“Quando cheguei ao Real Madrid, sabem quantos jogadores do plantel já tinham jogado nos quartos-de-final da Liga dos Campeões? Xabi Alonso, com o Liverpool; Iker Casillas, com o Real Madrid; e Cristiano Ronaldo, com o Manchester United. Mais ninguém. É isto a ‘herança futebolística”, explicou.

PIERRE-PHILIPPE MARCOU

Quando um jornalista tentou então interrompê-lo para falar sobre os dados que tinha apresentado, Mourinho não o permitiu e continuou a falar – desta vez sobre o rival, mais especificamente sobre o plantel que Pep Guardiola herdou. “Estes dados são a realidade. E dou-vos mais: nos últimos sete anos, a pior classificação do Manchester City na Premier League foi o quarto lugar e foram campeões duas vezes”, notou, acrescentando também que Otamendi, De Bruyne, Fernandinho, Silva, Sterling e Aguero “são investimentos do passado, não dos últimos dois anos”.

E aí há uma grande diferença para a equipa do Manchester United que Mourinho herdou. “Sabem quantos jogadores do United deixaram o clube na última época? Vejam onde jogam agora, com quem jogam, se é que jogam. Isso é ‘herança futebolística’. Um dia, quando eu me for embora, o próximo treinador do Manchester United irá encontrar aqui Lukaku, Matic, De Gea – que já cá estava antes – e muitos jogadores com uma mentalidade diferente, com um conhecimento diferente”, disse.

É por isso que “há sempre os mesmos quatros clubes nos quartos-de-final da Liga dos Campeões”, diz Mourinho, referindo-se a Barcelona, Real Madrid, Juventus e Bayern de Munique. “E depois há os outros, que vão lá de vez em quando, como o meu Inter de Milão ou o Mónaco na época passada”, acrescentou.

Ainda assim, Mourinho não está preocupado com o futuro do Manchester United, porque disse estar “em sintonia com os donos”, sobre “os investimentos” que o clube vai fazer. “A vida é boa. Tenho um ótimo trabalho para fazer. Podia estar noutro país qualquer com um campeonato no bolso, mas estou aqui e vou continuar aqui e nem pensem que vou mudar a minha mentalidade”, garantiu.

“Não vou fugir nem desaparecer nem chorar porque ouvi alguns assobios, nem me vou meter logo no túnel. No próximo jogo serei o primeiro a sair para o campo. Não tenho medo das minhas responsabilidades. Quando tinha 20 anos, não era ninguém no futebol, era o filho de alguém, com muito orgulho, e agora tenho 55 anos e sou o que sou e fiz o que fiz porque trabalhei muito e tenho talento e a mentalidade certa”, disse.

“Entendo que, durante muitos, muitos, muitos anos, foi muito difícil para as pessoas que não gostam de mim: ‘Aqui está ele outra vez, aqui está ele a ganhar outra vez’. Não ganhei nada durante dez meses, o último título que ganhei foi há dez meses, mas ganhei ao Liverpool, ao Chelsea, e perdi contra o Sevilha e agora é a altura deles ficarem felizes. Aprendi isso na minha formação religiosa: temos de ficar felizes com a felicidade dos outros, portanto sou um tipo muito feliz”.

Feliz em conferências de imprensa. Mas, no campo…

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