O Presidente da República anunciou a concessão de um período de 30 dias para o regresso das fortunas no estrangeiro a Angola. Quem não alinhar, arrisca-se a ter o próprio Estado atrás do dinheiro.
João Lourenço defendeu esta quarta-feira que o dinheiro no exterior deve ser repatriado até Janeiro e garantiu que, quem trouxer o dinheiro de volta ao país, não vai ser processado.
“A partir do início do ano, vai estabelecer-se um período de graça durante o qual todos os cidadãos angolanos que repatriarem capitais do estrangeiro para Angola e os investirem na economia e empresas geradoras de bens, de serviços e de emprego não vão ser molestados, não vão ser interrogados das razões de terem dinheiro lá fora, não vão ser processados judicialmente”, esclareceu o novo presidente de Angola, no seminário intitulado “MPLA e os desafios à corrupção”.
Com um aviso: “no final, o Estado de Angola sente-se no direito de o considerar dinheiro de Angola e dos angolanos e como tal vai agir junto das autoridades dos países de domicílio para tê-lo de volta e em sua posse”.
Depois de receber um forte aplauso da plateia, que contou com a presença de Isabel dos Santos, João Lourenço fez um apelo ao Executivo para encorajar as “entidades competentes” a “combater o branqueamento de capitais”.
Devemos “erradicar do seio das fileiras e das nossas instituições aqueles que comprovadamente praticam crimes que lesam o interesse público”, frisou João Lourenço, acrescentando: “que não se confunda a luta contra a corrupção e outros comportamentos conexos com a perseguição aos ricos ou a famílias abastadas”.
Pode ver aqui a intervenção de João Lourenço na íntegra:
Esta medida surge no seguimento dos dados da Unidade de Informação Financeira (UIF) de Angola, que mostram que houve mais de 130 casos suspeitos de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo este ano. De acordo com a imprensa angolana, esses mesmos casos já foram encaminhados para a justiça.
No seminário sobre combate à corrupção, José Cerqueira, secretário de Estado para o Transporte Ferroviário, reforçou que existe muito capital angolano no exterior, defendendo também o repatriamento do capital. “Neste momento, há diversas iniciativas no estrangeiro contra os depositantes angolanos, pessoas que tiveram o seu dinheiro durante muito tempo sem movimentação e são confiscados ou retirados os capitais”, afirmou, citado pelo Jornal de Angola.
O activista Luaty Beirão já reagiu à decisão, através da sua página de Twitter, afirmando que no próximo discurso seria “bom ouvir: ‘eu próprio, já repatriei os meus milhões e aqui têm a prova do que digo’ (exibindo documentos)”.