É incrível que o Governo de Angola é especialista em adoptar medidas na margem. Nunca pensamos em reformas quando a economia está mais bem preparada para recebê-las e para absorver os impactos negativos, pelo contrário, preferimos tempos de crise para implementá-las e deixar as coisas ainda pior.
Quando você toma uma medida a ter efeitos de um dia para outro é porque você tem pressa e precisa muito que ela se efective. E se você precisa que a medida se efective com máxima urgência é porque tem problemas. É como alguém que te dá dinheiro por empréstimo para pagares quando poderes. Passam semanas, ele não te cobra, mas quando um dia estiver apertado vai cobrar e exigir-te o kumbo rápido, alegando que precisa do dinheiro e que você já teve tempo suficiente para pagar.
Assim é o Governo que há mais de 2 meses não consegue pagar os salários da função pública atempadamente. O MINFIN está tão apertado que já começou a aumentar as taxas dos títulos da dívida pública para atrair os bancos. A situação está tão apertada que, na semana passada, a Unidade de Gestão da Dívida (UGT) emitiu Bilhetes do Tesouro a 364 dias, com a taxas de juro de 19,25% (2 pp acima das OTs a 10 anos). Acredito que isso deve ter sido para cobrir despesas com os salários que atrasam de forma consistente.
Tudo isso é só para ter uma ideia de que essa medida dos combustíveis nada tem a ver com a eficiência económica, é uma poupança forçada que as famílias têm de fazer para continuar a alimentar a máquina ineficiente do governo.
Mas, claro, o que nos disseram foi outra coisa. Disseram que essa medida geraria uma poupança que serviria para fazer investimentos na saúde, educação, no Kwenda e para reduzir o desemprego. Para piorar colocaram uma jovem bonita a fazer publicidade na imprensa pública sobre os benefícios da remoção dos subsídios aos combustíveis com vista a lavar a mente da maioria dos nossos irmãos cuja boa educação lhes foi recusada. No final do dia, nem eles, nem nós acreditamos que daí vem boa coisa, porque somos incapazes de resolver o problema da má despesa. Só para dar nota que os camaradas que tomaram essa medida não descontinuaram os cartões que usam para pagar os combustíveis financiados pelos impostos que nós pagamos. Enfim, não há empatia!
É incrível que o Governo de Angola é especialista em adoptar medidas na margem. Nunca pensamos em reformas quando a economia está mais bem preparada para recebê-las e para absorver os impactos negativos, pelo contrário, preferimos tempos de crise para implementá- -las e deixar as coisas ainda pior.
A nova dinâmica que temos da taxa de câmbio é complexa e assustadora, sobretudo para aqueles que não acompanharam de perto as depreciações ocorridas em 2018, 2019 e 2020. 2018 foi provavelmente o ano mais difícil para o kwanza, quando depreciou quase 65%. Em 2019 foram quase 45% e em 2020 foram 32%. Este ano já foram mais de 30% e o que nos assusta a todos é a velocidade a que o kwanza está a cair. Neste caso, o que se espera do kwanza no segundo semestre desde ano? O meu desafio com este artigo é responder a essa questão.
O que houve?…
No ano passado, o Kwanza apreciou face ao dólar (+10%) e ao euro (+17%). A economia cresceu no geral 3%, a inflação ao todo contraiu 13 pontos percentuais para quase 13,86% e o BNA levou muito crédito por isso, quando grande parte deveria ter sido dado a Sua Excelência o Presidente russo, Vladimir Putin, por ter invadido a Ucrânia. A política monetária do BNA pouco teve a ver com a redução da inflação, tendo em vista que a taxa BNA só serve para forward guidence.
Honestamente, cá em Angola estamos todos atirados à sorte. Penso que todo esse problema começou em Setembro de 2022, quando as importações começaram a crescer visivelmente muito mais do que as exportações em termos homólogos, enxugando recursos cambiais de forma gradual.
No princípio do ano, a Total informou que o campo Dália, do bloco 17, um dos principais campos petrolíferos, iria parar a sua produção por 30 dias no mês de Março por questões de manutenção. Isso significaria contracção na produção com impacto nas exportações e, consequentemente, nos recursos cambiais, gerando pressão no mercado. Para piorar as coisas, o MINFIN, o tal maior fornecedor, tem os seus compromissos com a dívida e, entre Março a Abril, pagou uns bons milhões de dólares, tendo deixado o mercado cambial órfão por mais de um mês, como resultado o inocente Kwanza não resistiu.
No final das contas, o Kwanza já tinha de começar a depreciar em Abril ou um pouco antes, mas apenas começou algures em Maio, porque o BNA impedia os bancos de praticar taxas de mercado, sendo curioso que nos últimos dois Comités de Política Monetária a frase mais repetida foi a de que “o mercado está a funcionar de acordo com as forças da procura e da oferta”. Ou seja, nem o BNA consegue ser transparente. A quem confiarei, e quem irá por nós (Isaías 6:8)?
Não é possível ter mercado livre enquanto continuarmos com problemas estruturais, sejamos honestos. O BNA deveria ter deixado o Kwanza depreciar lentamente a partir de Janeiro, mas preferiu controlar e o coitado Kwanza está a pagar e as pessoas estão em pânico.
Expansão