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ONU quer “meter” África na rota do investimento estrangeiro

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A estratégia para mudar a narrativa sobre África, que tem como ponto nevrálgico a Zona de ComércioLivre Continental Africana, utilizará “altas figuras políticas e funcionários governamentais, investidores estrangeiros e a comunidade expatriada como “embaixadores” de investimento”.

As Nações Unidas têm uma estratégia para mudar a actual narrativa sobre África, fruto da cobertura mediática ocidental “frequentemente desfavorável”, baseada em estereótipos e desconhecimento, que afasta investidores e retrai o Investimento Directo Estrangeiro (IDE). “Associações negativas sistemáticas a uma região reduzem a probabilidade de investimentos, dificultam as actividades da comunidade empresarial e têm um efeito negativo no número de turistas”, três lados de um triângulo que a ONU quer ajudar a inverter, tirando partido do projecto, em construção, da Zona de Comércio Livre Continental (ZCLCA).

A estratégia para mudar a narrativa sobre África utilizará “altas figuras políticas e funcionários governamentais, investidores estrangeiros e a comunidade expatriada como “embaixadores” de investimento” e trará jornalistas ao continente para mostrar os países como eles são e não como são percepcionados, por causa de uma cobertura noticiosa “obscurecida” por chavões e “transfigurada” por generalizações.

O documento de advocacy foi “desenhado” pelo angolano Gilberto António, conselheiro sénior do secretário-geral da ZCLCA, com contribuições de Kavazeua Katjomuise, responsável pelos Assuntos Económicos do Gabinete do Conselheiro Especial das Nações Unidas para África (OSAA), organismo a quem compete enviar as recomendações nele vertidas aos Estados-membros da ZCLCA.

Os “embaixadores” de investimento serão escolhidos pelo seu “grau de proeminência” em sectores prioritários, pelas ligações a contactos no estrangeiro e no conhecimento aprofundado no sector que se comprometem a apoiar. A construção da nova narrativa sobre África passa ainda por estabelecer um paralelismo com outras organizações regionais de integração económica, como a União Europeia, e pela realização de actividades de “construção de imagem positiva” junto da comunidade empresarial estrangeira, que inclui participações em feiras de investimento e missões comerciais.

Simplificações extremas

Ao longo de 13 páginas, os relatores da estratégia para mudar a narrativa sobre África mostram como o continente tem sido penalizado por “estereótipos” e “simplificações extremas da realidade que não são necessariamente precisas”. A combinação de “atitudes gerais, preconceitos estruturais e decisões económicas fazem com que África pareça menos importante”, com escassez de peças regionais nas principais agências noticiosas estrangeiras. Além de uma cobertura noticiosa limitada – entre 5% e 6% do volume total de notícias internacionais nos media dos EUA, Reino Unido e França – ela “é negativa” e não exprime “sinais de optimismo”, como evidencia Amy E. Harth, numa comunicação sobre “Representações de África nos meios de comunicação social ocidentais: Reforço dos Mitos e Estereótipos”.

África é apresentada como “um continente falhado, devastado pela instabilidade política, atraso económico, fome e secas extraordinárias, pobreza, doenças e formas culturalmente primitivas de fazer as coisas”. E nos relatos dos conflitos “antecedentes contextuais, como as causas subjacentes das crises, incluindo a forma como o Ocidente contribuiu para o subdesenvolvimento de África, estão conspicuamente ausentes dos relatos da imprensa ocidental”, constata Levi Obijiofor, professor de jornalismo da Universidade de Queensland, Austrália.

Cobertura enviesada

Esta cobertura enviesada “desempenha um papel crucial na formação das atitudes e percepções dos investidores ou turistas”, na era da globalização que “está a transformar o mundo num gigantesco supermercado, onde os países competem para estimular as exportações, atrair o turismo, o IDE e a imigração”. Os fluxos de IDE dependem de medidas favoráveis ao investidor. Contudo, muitas vezes estas medidas que criam um ambiente favorável ao investimento “podem ser ignoradas ou ser sobrepostas pelas notícias alarmantes projectadas pela imprensa”, mesmo quando essas notícias não afectam o próprio país, mas outro país da região.

“África, tal como é apresentada por certos elementos da imprensa ocidental, não tem a oportunidade de apresentar qualquer dos seus países como distinto”. Como resultado da cobertura negativa, os “investidores internacionais tendem a ter uma perceção pessimista e por vezes mal fundamentada de África, que mina os esforços dos países africanos”, já que “cria um fosso entre o verdadeiro clima de investimento e o que é percepcionado pelo público”.

Um inquérito da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) dá consistência a esta tese. Um total de 56% das empresas inquiridas relatou que o “ambiente empresarial real nos países da África Subsariana era melhor do que a imagem do continente sugeriria”.

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