De acordo com um estudo, em 2022 cerca de 70% dos angolanos faziam compras nos mercados informais. E 39% faziam compras em regime de sócia, ou seja, não conseguiam pagar o valor sozinhos. Agora, com a forte subida dos preços as dificuldades das famílias serão ainda piores.
Influenciados pela subida do preço da gasolina e pela contínua depreciação do kwanza, os preços de alguns dos principais produtos da cesta básica alimentar já sofreram variações acima dos 50% em apenas três semanas nos supermercados e nos mercados informais, com base no levantamento de preços de 13 produtos considerados fundamentais na dieta dos angolanos.
Ao longo das últimas semanas o Expansão tem feito um levantamento nos mercados formais (supermercados) e informais (Asa Branca e Catinton) de Luanda para averiguar o comportamento dos preços numa altura de forte desvalorização cambial e de corte parcial da subsidiação estatal à gasolina.
No mercado informal, o sal registou a maior variação ao duplicar o preço saindo de 100 Kz em 29 de Maio para 200 Kz a 19 de Junho (21 dias depois). No mesmo período, foram ainda verificadas outras variações acima dos 50%, como é o caso da caixa de massa (66%) que saiu de 3.500 Kz para 5.800 Kz, bem como do arroz, cujo preço do saco de 25 quilos cresceu 52% de 9.900 Kz para 15.000 Kz.
A coxa de frango, um dos produtos mais consumidos pela população nacional, viu o preço da caixa de 10 quilos crescer em média 43% nos mercados informais ao sair de 10.500 Kz para 15.000 Kz. Na mesma ordem, o preço da farinha de trigo subiu de 300 Kz para 400 Kz o quilo, uma variação de 33%. Juntam-se aos produtos que registaram aumento nos preços, o feijão catarino e o açúcar com subidas de 25% e 20% respectivamente.
Já a caixa de óleo (24 litros) com 11% e a de peixe carapau (20 kg) com 4%, registaram as menores variações até a data. Por outro lado, houve produtos que não sofreram alterações, como é o caso dos ovos, a fuba de milho, a fuba de bombó e a batata rena.
Mercado formal
A tendência de crescimento de preços no informal foi acompanhada nos mercados formais. Há casos onde o pão, por exemplo, passou de 50 Kz para 80 Kz num período de pouco mais de uma semana, o que representa uma subida de 60%. É um dos efeitos da desvalorização cambial, já que o kwanza depreciou mais de 30% no espaço de um mês.
Já o feijão catarino foi o único produto cujo preço cresceu mais de 50% durante o período em análise (de 29 de Maio a 19 de Junho). O preço do pacote de um quilo cresceu 66% ao sair de 1.200 Kk para 1.990 Kz.
Ainda no mercado formal, a caixa de coxa de frango (10kg) registou a segunda maior variação ao sair de 9.750 Kz para 14.000 Kz, uma subida de 44% em cerca de três semanas. A seguir com 43%, um quilo de sal passou de 199 Kz para 285 Kz. Na mesma ordem, os ovos (24 unidades), a fuba de milho e o açúcar cresceram 38%, 36% e 30% respectivamente .
Este aumento contínuo dos preços que se verifica nas últimas semanas deve-se por um lado à subida do preço da gasolina, e por outro à acentuada depreciação da moeda nacional que influencia directamente os produtos importados. Espera-se que os preços venham a crescer ainda mais nos próximos dias devido à tendência decrescente do valor do kwanza face às duas principais moedas externas.
O aumento do custo de aquisição dos bens importados faz com que os comerciantes (importadores) sejam obrigados a aumentar os preços, o que acaba por afectar o consumidor final, diminuindo assim o poder de compra das famílias já que os salários se mantêm inalterados.
Por outro lado, a retirada dos subsídios aos combustíveis, foi feita em momento pouco oportuno (conforme noticiou o Expansão, baseado na opinião de especialistas, na edição de 09 de Junho de 2023), numa altura de forte desvalorização, contribuindo, assim, também para a subida dos preços, sobretudo nos mercados informais. E há que considerar igualmente a especulação de preços que pode ocorrer nos mercados informais que resulta da percepção da subida dos preços.
Expansão