Durante a sua intervenção no VII Congresso do MPLA, no dia 16 do corrente, o Presidente da República nas vestes de líder partidário, João Lourenço, sem citar o nome da empresária, desferiu uma dura crítica a Filomena de Oliveira.
Acto que deveu-se ao facto desta ter chamado, ao que se pode depreender, metaforicamente, de surdos aos técnicos da AGT e ao próprio Executivo durante o debate televisivo da TPA “Sociedade Aberta”.
Ao que o presidente disse “… Nós estamos a ouvir. NÃO SOMOS SURDOS. Como alguém dizia (Filomena de Oliveira) aos técnicos da AGT. E que eu não gostei nada… temos de nos respeitar mutuamente.”
“…Mas o nosso Executivo e sobretudo os nossos jovens da AGT têm um problema gravíssimo: SÃO SURDOS. Não ouvem…”
Foram estas as palavras da empresária que podem ser confirmadas no tempo 4´42” do vídeo abaixo que motivaram a citação de JLO em discurso directo no Congresso dos camaradas “Não gostei nada”.
Presume-se que, Filomena de Oliveira recorreu a um recurso estilístico de linguagem, no caso, a metáfora, no acto da sua argumentação. Afinal, pelas imagens do debate é possível aferir que os interlocutores estavam certos de que ninguém ali presente era literalmente surdo e até onde se sabe, não há literalmente surdos no Executivo.
Contudo, pelo tom de voz da empresária pode ter soado a falta de respeito para algumas senão muitas sensiblidades, onde, literalmente podemos enqudrar o PR. No entanto, os excessos são típicos dos debates na mídia televisiva.
Ao Presidente da República soou a falta de respeito. Facto é que a opinião pública não está a apoiar a posição do PR. E desde o dia 16 do corrente o “Não gostei nada” está a gerar menções muito negativas e outros debates como o de aproveitamento da elite “marimbondo” a volta da dimensão reputacional do Líder do MPLA e do Presidente da República que se fundem na mesma pessoa.
Abrindo parenteses, em termos reputacionais, a figura de JLO no espaço público não tem sido das melhores nos últimos tempos. Em todas as conferências de imprensa, duas no total, nunca conseguiu colher indicadores positivos no que toca a performance discursiva e a de expressão comunicacional e até mesmo de estratégia.
Por exemplo, irritou muitos OCS´s angolanos quando concedeu uma entrevista exclusiva a RTP. Fazendo Igualzinho ao seu antecessor. Duas hipóteses: Tem de ouvir mais a sua equipa de Relações Públicas ou tem de trocá-la. Se é que tem.
Já a intervenção da empresária Filomena de Oliveira durante o debate na TPA foi relativamente bem recebida pelo público. Contudo, nem tudo foi azul. Há quem defenda que a empresária incorreu a populismos.
Ainda a volta do assunto “SÃO SURDOS & NÃO SOMOS SURDOS”, no espaço público passa-se a ideia de que o posicionamento do PR não revelou tolerância de opinião. Um dos principais baluartes da democracia.
O artigo da jornalista da Record, também quadro da RNA, Kina dos Santos, que passamos a retomar deixa o acima aludido bem evidente.
“Eu gosto de gente como eu que chama os bois pelos nomes. Eu gosto de como as pessoas hoje têm peito para expor os seus pontos de vista. São opiniões alheias e devem ser respeitadas, já que devemos todos nos “respeitar mutuamente”, comecemos por respeitar opiniões alheias.
Eu não gosto dos muitos recados que se apregoam aqui e ali. Eu não gosto o facto de continuar pobre e desgraçada, num país onde a “dirigência” acha que faz muito pelo povo, quando na verdade continuamos com a velha promessa de vida melhor, e agora mais endividados.
Eu não gosto da riqueza fácil de muitos governantes. Não gosto da arrogância deles. Não gosto das ameaças e se não fossem os cargos que ocupam, podem crer muito bate boca travaríamos em público. Aqui não há faltas de respeito! Há opinião madura de uma senhora, que pela idade, merecia respeito. Se não se gostam que os cidadão angolanos, dentro do seu país se expressem, governem e nós calamos a boca.
Aliás como sempre nos adestraram. Não há surdos realmente, mas eu vou mais longe… há cegos, basta olhar para o Cunene, para não dizer que há quem não se importa com a nossa dor. Eleitor não tem opinião. Dele só precisam de voto no dia D. Eleitor não tem voz ou tem de medir palavras porque depois há desabafo: Não gostei!
E nós? Alguém nos perguntou o que gostamos? Aquela questão da satisfação de governação que foi feita lá no começo de tudo, aplicada à nós… haviam de se surpreender com as respostas. Não gosto de bater palminhas de plástico. Não gosto da cegueira de muitos ou do fingimento. Estou cansada dos compadrios e cumadrios. Estou cansada das inverdades. Cansada da falta de água, de energia eléctrica, de medicamentos, de habitação condigna e dos muitos 27 de Maio por pensar diferente, cansada dos paliativos.
Terra dos milhões! Cada qual sugou o seu, agora choram. Bué de leis, devolver a tatita nada!!! Isso é que não gosto (…) E dispõe tipo Deuses. Donos da verdade e dos destinos. Quem não tem gostado sou eu. Experimentem me ouvir.
Jindungu de kaleketa haja boca que aguente.”