O Presidente da República, João Lourenço, inicia, hoje, a primeira visita de Estado ao Botswana, cujo foco principal assenta no alargamento do escopo da cooperação entre os dois países, com realce para a revitalização da Comissão Bilateral da Cooperação.
O estadista angolano chegou a este país ontem, a convite do homólogo Mokgweetsi Masisi, que já esteve em Angola em duas ocasiões, sendo a primeira em 2019 e a última em 2021.
O Chefe de Estado angolano foi recebido no aeroporto pelo próprio homólogo, que o desejou boas vindas ao país.
O secretário para os Assuntos Institucionais e Imprensa do Presidente da República, Luís Fernando, informou, ontem, na comunicação sobre essa deslocação do Chefe de Estado ao Botswana, que os dois estadistas vão manter, hoje, um téte-à-téte no Palácio Presidencial de Gaberone, acto que será seguido de conversações oficiais entre as duas delegações ministeriais que acompanharão os dois Presidentes.
Luís Fernando fez saber que a visita do estadista angolano a este país termina amanhã, depois de homenageado com um jantar oferecido por Mokgweetsi Masisi.
Por cá, um comunicado de imprensa do Ministério das Relações Internacionais e Cooperação do Botswana, divulgado também ontem, pelo jornal oficial do país, o Daily News, reforça que as conversações entre os dois estadistas vão estar viradas para o fortalecimento das relações bilaterais e ampliação da cooperação entre os respectivos países.
“Os dois líderes continuarão a discutir questões regionais e globais de interesse comum”, lê-se no comunicado.
Após este momento, acrescenta o documento, João Lourenço e Mokgweetsi Masisi vão prestar declarações à imprensa dos dois países sobre a conclusão das conversações. O comunicado refere, igualmente, que os dois Chefes de Estado passarão em revista os progressos realizados no quadro da implementação do acordo-quadro para a promoção da cooperação bilateral, bem como a convocação da sessão inaugural da comissão conjunta permanente de cooperação Botswana-Angola.
O reforço da cooperação entre os dois países foi um dos temas mais aflorado durante a visita de Mokgweetsi Masisi a Angola, em Junho de 2021. Os dois estadistas identificaram, nesta ocasião, o sector da Educação e o de Geologia e Minas como áreas prioritárias da cooperação bilateral. O Presidente tswanês referiu, na altura, que havia, igualmente, a possibilidade de os dois países virem a cooperar nas áreas da Pesquisa e Inovação.
Referindo-se, objectivamente, aos domínios da Geologia e Minas, Mokgweetsi Masisi defendeu a necessidade de Angola e o Botswana reforçarem a cooperação nestas áreas, com foco no mapeamento, exploração, legislação e governança do sector. “Podemos incluir, aqui, a área da negociação de acordos mineiros entre empresas mineiras, bem como todo o processo de mineração na sua cadeia de valores”, destacou, naquela ocasião o estadista.
tswanês, acrescentando que todo o trabalho ou cooperação a ser desenvolvida entre Angola e o Botswana tem como objectivo último a melhoria das condições das populações dos dois países. “Eu e o Presidente (João) Lourenço queremos trabalhar para o interesse dos nossos povos”, acentuou.
No ano passado, o Presidente João Lourenço manifestou, por via de uma mensagem endereçada a Masisi, por intermédio do ministro das Relações Exteriores, Téte António, a vontade de aprofundar as relações de cooperação com o Botswana, no quadro da amizade e solidariedade que unem a irmandade dos dois países e povos.
Ao discursar na cerimónia referente ao 47º aniversário da Independência Nacional, em Gaberone, no ano passado, a embaixadora de Angola no Botswana, Beatriz Morais, revelou que os dois países já começaram a desenvolver acções para o reforço e aprofundamento da cooperação, com o objectivo, sobretudo, para a criação das condições para a realização da Comissão Mista Bilateral entre os dois países, além da previsão para a revisão e assinatura de novos instrumentos jurídicos.
Gaberone interessada nos serviços do Angosat 2
A República do Botswana manifestou, este ano, interesse nos serviços do satélite angolano Angosat-2, lançado, com sucesso, em Outubro do ano passado, no Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão.
A intenção foi manifestada, em Fevereiro, pelo vice-reitor da Universidade do Botswana, David Norris, durante um encontro mantido com a embaixadora de Angola no Botswana, Beatriz de Morais. David Norris mostrou-se, também, interessado no estabelecimento de uma parceria com a Universidade Agostinho Neto, em que o alvo seria, então, a criação de um projecto de treinamento de estudantes angolanos no Botswana.
As relações político-diplomáticas entre Angola e o Botswana foram estabelecidas a 18 de Fevereiro de 1976. Em Fevereiro de 2006, os dois países assinaram um Acordo Geral de Cooperação virado para os domínios da Agricultura, Energia e Águas, Indústria, Comércio, Hotelaria e Turismo, Geologia e Minas, Ambiente, Administração do Território, Formação Técnico-Profissional, Petróleos, Telecomunicações e Cooperação Empresarial. Os dois países decidiram dar início, nos últimos anos, mais dinâmica às relações de cooperação, com vista ao aproveitamento, sobretudo, da aproximação geográfica, histórica e de factores ecológicos.
Ao longo dos anos, as relações de cooperação entre os dois países chegaram a registar uma certa letargia, sendo que os mesmos relacionavam-se apenas no quadro multilateral ao nível da Comunidade dos Países para o Desenvolvimento da África Austral (ADC, da Zona de Conservação Transfronteiriça Okavango-Zambeze (KAZA) e da Comissão do Curso Hídrico do Zambeze (ZAMCOM).
No domínio regional, continental e mundial os dois países têm partilhado posições comuns sobre diversos assuntos em organizações em que são membros, como a Organização das Nações Unidas e na União Africana.
Modelo de sucesso económico em África
O Botswana é um país da África Austral , localizado entre a Zâmbia, Zimbabwe, África do Sul e a Namíbia. O seu território é sem litoral e não tem acesso directo ao mar, excepto pela hidrovia oferecida pelo rio Zambeze. Em termos de área, com seus 581.730 quilómetros quadrados, Botswana ocupa o 45º lugar no mundo, depois da Ucrânia, e o seu território é de tamanho equivalente à ilha de Madagáscar. O país é, principalmente, plano, formando um planalto montanhoso. Botswana é considerado um modelo de sucesso económico no continente africano. O país construiu o seu futuro sobre uma administração democrática, estável, competente e pouco corrupta.
Considerado pela Transparency International como menos corrupto em África, o Botswana é detentor de uma gestão prudente e de um porão rico em diamantes, do qual é o terceiro produtor mundial, além de ser forte em outros recursos, como cobre e níquel, carvão e petróleo.
O país, que na sua Independência, em 1966, era um dos vinte e cinco mais pobres do mundo, está, agora, entre os mais prósperos do continente africano. É o único país do mundo que conseguiu registar, no período 1970-2000, um crescimento médio anual de cerca de 9 por cento e, também, o único país a sair do grupo dos países menos desenvolvidos em 1994. Em 2022, o Botswana ocupava a 86ª posição no Índice Global de Inovação.
Esta riqueza encontra-se, no entanto, ameaçada pela dependência excessiva da economia face ao sector Mineiro, bem como pela epidemia de SIDA, que assola todos os estratos da população, quase um em cada três adultos infectado. A sua população é estimada em 2.317, 233 de habitantes.
JA