Incerteza atinge sobretudo o sector do turismo, com uma retração no fluxo de turistas, que penalizará ainda mais o Egipto, depois da quebra de 71% nas receitas do turismo, após a Covid-19.
Uma guerra prolongada entre o Hamas e Israel corre o risco de afectar a actividade económica e as perspectivas de inflação nos países vizinhos, incluindo o Egipto, no norte de África, e o Libano e Jordânia, no Médio Oriente, alertou a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, no segundo dia de uma conferência de investidores em Riade, Arábia Saudita, esta quarta-feira, dia 25.
“O que está a acontecer no Médio Oriente acontece numa altura em que o crescimento é lento, as taxas de juros são altas, e o custo do serviço da dívida aumentou por causa da Covid-19 e da guerra na Ucrânia”, afirmou Kristalina Georgieva, citada pela Bloomberg, notando que o nervosismo que se assiste num “mundo que já era ansioso” compromete os esforços feitos para conter a inflação global.
As declarações de directora-geral do FMI sucedem à advertência do presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, ao alertar para a perigosidade do actual momento no primeiro dia da conferência, conhecida como “Davos do Deserto”, numa analogia ao encontro que todos os anos reúne na suíça a nata da economia global.
A incerteza atinge sobretudo o sector do turismo, com uma retração no fluxo de turistas, que penalizará ainda mais o Egipto, depois de uma quebra de 71% nas receitas do turismo, que passaram de 13,8 mil milhões USD em 2019 para 4,0 mil milhões USD em Julho de 2022.
O Egipto, um dos países mais afectados pelo afluxo de refugiados da Palestina, reuniu líderes de mais de 25 países, numa cimeira para a paz no Cairo, este fim-de-semana, mas não conseguiu aprovar uma resolução que fizesse desescalar o conflito, após a incursão do Hamas em Israel, a 7 de Outubro.
Mas não é só o turismo que sofre com a crise no Médio Oriente, como clarificou Kristalina Georgieva. “Os investidores ficarão tímidos em investir na região e o custo dos seguros no transporte de mercadorias vão subir”, frisou a directora-geral do FMI, notando que o impacto das tensões vai pesar nos esforços que têm vindo a ser feitos nos últimos cinco anos para baixar a inflação, e que começavam a ser visíveis. “A inflação está a descer”, mas a má notícia é que “não está a descer suficientemente rápido”, resumiu, concluindo que a guerra entre o Hamas e Israel vai ampliar os riscos de inflação e do crescimento.
Na sua última análise económica regional, publicada antes da guerra, o FMI projectou que as economias do Médio Oriente e do Norte de África se expandiriam a um ritmo mais lento de 2%, abaixo da sua previsão anterior de 3,1%, projecções comprometidas com o aumento do conflito no médio oriente.
Numa análise ao conflito e ao seu impacto na região, o antigo diplomata egípcio Hesham Youssef frisou que “muitos sectores da opinião pública árabe estão desiludidos com o facto de os países ocidentais insistirem na ordem internacional baseada em regras, ao mesmo tempo que parecem adiar a tomada de medidas para prestar ajuda humanitária em conformidade com o direito humanitário internacional e hesitar em mediar medidas de desanuviamento”. Para Youssef, o “impacto desta guerra e a forma como continua a ser travada e como termina terá ramificações profundas”.
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