O arranque deste Expresso Curto podia ter sido escrito ontem. Ou anteontem. Ou amanhã. Ou. As notícias de Angola têm chegado a um ritmo constante e tomado de assalto o topo destes pequenos textos.
Pode uma surpresa ser uma surpresa quando se está à espera que muito mude? Paradoxalmente pode e é por isso que hoje, depois de muitas voltas e leituras, me rendi à evidência.
O Expresso Curto destes tempos começa por Angola. Sigamos, antes que mais notícias comecem a chegar de Luanda.
A surpresa de anteontem e que ainda é notícia hoje é a exoneração de Isabel dos Santos da Sonangol, a “galinha dos ovos de ouro” (palavras do novo presidente angolano) da economia do país. A surpresa não está efetivamente na saída – que era ventilada desde antes do verão – mas na forma, na data e na sequência em que ocorre.
É por isto que este processo de afirmação tem algo de revolucionário. João Lourenço parece ter respostas simples à pergunta de Lenine, que precede qualquer movimento de rutura.
Que Fazer? A resposta do novo Presidente é clara e distinta: afastar todos os dirigentes de empresas e instituições públicas fundamentais ao controlo de poder e substituí-las por pessoas da sua confiança.
Paremos um segundo para pensar. Isabel dos Santos podia ter saído imediatamente antes das eleições, podia ter saído logo a seguir, podia até ter saído nas últimas semanas.
Como o seu comunicado sublinhou, a sua intervenção na empresa petrolífera teve bons resultados de gestão, tirando a Sonangol de uma situação de pré-falência.
Não faltaram momentos para sair pelo próprio pé e pela porta grande. Deixou-os passar porquê? Achava que ia ficar? Que não saía na enxurrada? Que teria um tratamento distinto, sem ser entre a exoneração nº20 e a nº22?
Não foi isso que aconteceu. Como disse ontem a empresária, num discurso publicado na sua conta de Instagram, “a memória é curta“. É verdade, poucos irão perder tempo a lembrar o trabalho que fez, porque as revoluções, mesmo as institucionais e democráticas, têm um estilo e um modo de atuar.
O estilo de João Lourenço é de exonerar em série. Ele é um exonerador em série. Gestores, administradores, filhos do ex-presidente, todos os dias, várias vezes ao dia, há uma nota de exoneração, seguida de outra de nomeação, do Palácio da Cidade Alta.
Apesar de ser muito cedo para chegar a conclusões, o ataque de João Lourenço não é ao poder pessoal, às fortunas ou aos negócios da pessoa A ou B, mas às suas influências nas empresas e nos recursos públicos.
É com esse controlo que o novo Presidente pensa pode libertar a economia angolana, capturada por muito poucos durante demasiado tempo, com consequências dramáticas para a população de um país com recursos imensos.
O que se segue? Esta é a grande questão, que só não é uma pergunta para um milhão de dólares porque tudo está a acontecer muito depressa e seriam precisos muitos milhões de dólares para apostarmos. Segunda de manhã cedo, o Expresso Curto terá que voltar ao tema.
Expresso