A malograda cineasta angolana Sarah Maldoror é a vencedora do Prémio Nacional de Cultura e Artes (PNCA), edição 2020, em cinema e áudio visual.

Conforme o júri do prémio promovido pelo Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, presidido por José Octávio Serra Van-Dúnem, na sua nota explicativa, a filmografia de Sarah Maldoror está intimamente relacionada com a causa de todos os povos negros oprimidos do mundo, com a história dos países africanos de expressão portuguesa na sua luta de libertação nacional contra o colonialismo português e, muito particularmente, com a história do cinema angolano razão pela qual foi homenageada no Primeiro Festival Internacional de Luanda (FICLUANDA), em 2008. 

Adianta que duas das suas produções cinematográficas têm particular importância para a memória colectiva dos angolanos e explicam a outorga deste prémio, a título póstumo.

Em 1969, realizou a sua primeira curta-metragem, com 17 minutos de duração, que se baseia num conto do escritor angolano José Luandino Vieira, O fato completo de Lucas Matesso, e tem como ambiente a cidade de Luanda.

O título deste filme, Monangambê, refere-se ao chamado usado por activistas anticoloniais angolanos para avisar sobre reuniões na vila. Foi filmado na Argélia, em três semanas, com actores amadores – militantes do Movimento de Libertação de Angola em Argel e Brazzaville – e com o actor argelino Mohamed Zinnet.

A sua segunda longa-metragem, Sambizanga, de 1972, sobre a guerra pela independência de Angola (1961-1974), também foi baseada numa história de Luandino Vieira, A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, e contou com a colaboração do seu marido, Mário Pinto de Andrade. 

A cineasta Sarah Maldoror morreu no passado dia 13 de abril, em Paris, vítima do coronavírus, aos 91 anos. Sarah Maldoror foi casada com o poeta e político angolano Mário Pinto de Andrade, fundador e primeiro presidente do MPLA.

O PNCA é a mais importante distinção do Estado Angolano neste sector, tendo como principal objectivo incentivar a criação artística e cultural, bem como a investigação científica no domínio das ciências humanas e sociais.

É atribuído nas categorias de literatura, artes plásticas, dança, música, teatro, cinema e audiovisuais, investigação em ciências humanas e sociais, festividades culturais populares e jornalismo cultural.

O prémio constitui uma homenagem e incentivo ao génio criador dos angolanos, de modo a perpetuar entre os cidadãos ideias tendentes à compreensão das múltiplas formas de criação artística e diversidade das manifestações linguísticas e culturais do povo e da Nação.