“Temos limitações na possibilidade de transformar em crédito os depósitos em dólares”

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O PCE do Banco Caixa Angola, João Plácido Pires, instituição que celebra 30 anos, considera que o sector bancário nacional está ao nível da banca internacional e defende o fomento da produção nacional e políticas económicas constantes para combater a inflação.

O Banco Caixa Angola completa 30 anos de mercado. Que avaliação faz da banca angolana?

O sector bancário angolano é um sector de classe internacional. Claro que tem um ou outro banco que não estará neste nível, mas isso existe em todos os países. O sector bancário é mesmo assim, às vezes há bancos que fraquejam. Mas a maioria dos bancos no mercado angolano são bancos que, por via da regulação que os ampara, que é uma regulação de nível europeu, seguem as mesmas regras que a banca europeia. E até mesmo que a banca de outras geografias seguem. Por isso é que digo que são bancos de classe internacional. Uns, como por exemplo o Caixa Angola, estão posicionados no top dessa classificação. De um modo geral, o sector bancário angolano está internacionalizado e mais desenvolvido do que a generalidade da economia angolana e dos sectores económicos. É um sector pioneiro na evolução da sociedade e da economia.

Como olha para a actuação do Banco Nacional de Angola (BNA) no sistema bancário nacional? É a desejada?

O BNA é um regulador que hoje em dia funciona com bases similares ao regulador europeu e aos melhores reguladores mundiais. Estamos ainda em processo de transição em algumas ferramentas de regulação, estamos a combinar as ferramentas das novas regras de Basileia, com as ferramentas clássicas que se usavam antes. Estamos em fase de transição. Mas este processo tem corrido com alguma tranquilidade e não temos efectivamente razões de queixa do nosso regulador, que tem feito um trabalho notável.

Olhando para os resultados do Caixa Angola no primeiro semestre do ano vemos que os activos cresceram 18% em termos homólogos. O que motivou este crescimento?

Estamos cada vez mais a prestar melhor serviço aos nossos clientes. E por via disso estamos também a captar mais clientes. Portanto, crescemos em clientes e crescemos em vinculação. Mais serviços pagos, temos mais rendimento. Os resultados da banca dependem muito também das variações das taxas de juro. E o semestre teve um nível relativamente alto de taxas de juro, começou baixinho mas depois subiu e agora já está outra vez baixo. Factores de mercado, como os níveis de indexantes e a preferência dos nossos clientes pelos nossos serviços e um rigoroso controlo de custos, contribuíram para os nossos resultados no primeiro semestre.

Apesar deste crescimento, a conversão dos depósitos em crédito ficou em 33% numa altura que a economia precisa de ser financiada…

Temos estado a melhorar significativamente a nossa taxa de conversão. Temos um peso significativo de depósitos em dólares. E em Angola a possibilidade de fazer crédito em dólares está limitada a empresas exportadoras, que são aquelas que naturalmente não precisam de dólares. Temos limitações na possibilidade de transformar em crédito os depósitos em dólares. E se os clientes depositam em dólares temos que ter aqui os dólares, não podemos converter os dólares em kwanzas e emprestar kwanzas com os depósitos em dólares. Mas estamos a subir o rácio de transformação, quer na parte dos depósitos em dólares, quer na parte em kwanzas. Temos feito um esforço grande neste sentido porque também é do nosso interesse.

Tem resultado?

É preciso não esquecer que trabalhamos com o dinheiro dos clientes, que tem de estar disponível. Para rentabilizar o dinheiro dos clientes temos que pagar a remuneração. Só temos em Angola duas alternativas, que são o crédito e dívida pública. Temos interesse em aumentar a carteira de crédito, mas hoje com as regras internacionais que regem a actuação da banca em Angola, o crédito exige que os clientes empresariais tenham rating. O crédito pessoal exige garantias adequadas. Por exemplo, para fazer um crédito habitação o prédio tem que estar legalizado e tem que poder ser hipotecado.

Isto é um entrave?

Os clientes que não têm a documentação legalizada não batem aàporta de nenhum banco porque já sabem que nenhum o pode servir. O crédito habitação, por exemplo, na Caixa Geral de Depósitos é uma fatia muito considerável do seu balanço, aqui ainda não chegamos a isso, nem pouco mais ou menos. Porque não há uma dinâmica do imobiliário novo, que normalmente é aquele que é vendido com crédito bancário, e há ainda estas restrições da devida inscrição e legalização dos imóveis.

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