A maioria dos angolanos estabelecidos na cidade de Kharkiv, a segunda maior da Ucrânia, abandonou-a sábado, por receio de ser toma-da, a qualquer momento, pelo Exército russo.
A informação foi avançada, domingo (27), ao Jornal de Angola, por Vivaldo Gomes Monteiro Pedro, um dos quatro angolanos que decidiram permanecer na cidade de Kharkiv, onde viviam, até sábado, cerca de quarenta compatriotas.
Disse que Kharkiv continua sob controlo do Governo ucraniano e confirmou que tropas russas chegaram a ocupar parte da cidade, onde ficaram aproximadamente cinco horas. Acentuou que “uma das grandes particularidades é que a tropa russa, quando entrou na cidade, não atacou a população”.
“Eu decidi ficar para não pôr em risco a minha vida e a da minha família”, declarou Vivaldo Pedro, que, em Kharkiv, é o responsável pela comunidade angolana local, agora reduzida a quatro pessoas.
Quando lhe foi perguntado sobre se não conseguiu evitar a saída dos compatriotas, respondeu: “não tive como evitar, porque o pessoal todo entrou em pânico. A única coisa que tive que fazer foi comunicar à Embaixada de Angola na Polónia, passando todos os contactos dos compatriotas que decidiram sair de Kharkiv”.
Confessou que também pensa em abandonar a cidade de Kharkiv, mas só quando tiver a certeza de que vai sair com a família em segurança.
Natural de Luanda, o angolano Vivaldo Pedro, de 35 anos, é licenciado em Engenharia Informática e mestre em Redes de Telecomunicações. Disse que tomou a decisão de ficar em Kharkiv porque se sair agora da cidade pode correr risco de vida, já que teria de fazer uma viagem de 18 horas de comboio, para chegar à cidade de Lviv, cuja distância é de 1.020 quilómetros.
“Na viagem de comboio tudo pode acontecer”, sublinhou, referindo que os confrontos na cidade de Kharkiv começaram na última quinta-feira, primeiro dia da invasão da Ucrânia pela Rússia. A população civil que não participa nos combates pela defesa da cidade de Kharkiv está escondida em “bunkers”.
“Só saímos à rua ou para espreitar ou para comprar produtos de higiene e alimentares, quando não temos o suficiente”, descreveu o compatriota, referindo que decidiu permanecer em Kharkiv por também saber que a “Ucrânia está preparada para a guerra e ter muitos túneis para situações de emergência”.
O jovem angolano está refugiado com a mulher e a filha, no subterrâneo de um prédio situado no centro da cidade de Kharkiv. O local tem energia eléctrica e água. “O subterrâneo tem as mínimas condições, como casas de banho e cozinha”, garantiu Vivaldo Pedro, que disse dispor também de ventiladores e aquecedores.
O comércio em Kharkiv não funciona em pleno, desde o primeiro dia da invasão da Ucrânia pela Rússia. Ontem, de acordo com a fonte, “foi um dos dias mais difíceis, porque os centros comerciais estavam todos encerrados”.
“Mas acredito que hoje (segunda-feira) os centros comerciais vão estar abertos”, vaticinou.
O jovem viajou para a Ucrânia em 2012, como bolseiro do Estado angolano, e concluiu o curso de licenciatura em 2017 e o de mestrado em 2019. O curso de mestrado terminou por conta própria, com recurso às economias que fez quando era bolseiro e, também, com a ajuda de familiares e amigos.
Quando Vivaldo Monteiro Pedro se candidatou a uma bolsa de estudos, só havia duas opções: estudar na Rússia ou na Ucrânia. Acrescentou ter preferido estudar na Ucrânia por ser “um país muito mais liberal, em relação à Rússia”. Trabalha e tem residência fixa na Ucrânia.
Os angolanos que vivem na Ucrânia estabelecem “comunicação em tempo real”, confirmou Vivaldo Monteiro Pedro, que disse ser uma forma de todos ficarem informados da situação de cada um.
JA