A popularidade do Presidente João Lourenço tem sustentado uma acentuada queda, sobretudo entre as populações urbanas, que expressam crescente desconfiança face à governação, quando confrontadas com crises socioeconómicas e promessas não cumpridas.
Perante um clima de perplexidade, este artigo explora onde residem as falhas, o significado político destas tendências, e os caminhos possíveis para recompor a confiança pública.
Diagnóstico da erosão de imagem

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- Queda significativa na aprovação popular
Segundo dados recentes do Afrobarometer, apenas 26% dos angolanos aprovam ou aprovam fortemente o desempenho de João Lourenço — uma queda de 18 pontos percentuais desde 2019.
A percepção negativa esbate-se mais entre os residentes urbanos: Luanda e Região Norte apresentam níveis de percepção de que Angola caminha na direcção errada entre 85% e 86%.
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- Reprovação do governo e da luta contra a Corrupção
Um estudo da Afrobarometer mostra que 80% dos angolanos rejeitam a governação de João Lourenço e duvidam da eficácia do seu combate à corrupção. Em Luanda, apenas 16% aprovam a governação presidencial.
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- Indignação urbana frente à crise social e económica
Protestos contra o aumento dos combustíveis, greves de taxistas e manifestações nas ruas de Luanda revelam uma população urbana que, cada vez mais, confia na contestação directa como forma de expressar angústia.
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- Jovens e oposição em ascensão
A insatisfação juvenil — onde mais de 60% da população tem menos de 24 anos — impulsionou resultados eleitorais históricos nas zonas urbanas, colocando o MPLA e João Lourenço sob forte pressão.
Implicações Políticas e Sociais
Estas tendências sinalizam um esgotamento do capital político que João Lourenço trouxe em 2017 após sua eleição, baseada em retombates reformas e combate à corrupção.
A erosão não apenas reflecte um descontentamento actual, mas prenuncia desafios eleitorais crescentes — especialmente nas eleições de 2027 — onde a legitimidade pública será posta à prova.
No ambiente urbano, a confiança no líder está directamente associada à resposta efectiva aos custos de vida, desemprego e deterioração dos serviços públicos.
Caminhos para Reconquistar a Confiança
1. Comunicação Empática e Transparente
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- Reaproximar-se da opinião pública com canais de escuta activa e maior prestação de contas, sem recorrer a censura mediática ou isolamento institucional.
2. Resposta Social Concreta e Imediata
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- Programas directos de apoio às vulnerabilidades urbanas — zonas pobres, desempregados, transportes sobrecarregados, preços dos alimentos — podem reparar percepções de inércia.
3. Inclusão dos Jovens no Processo Político
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- Institucionalizar mecanismos de diálogo com a juventude, fomentar o empreendedorismo e criação de empregos nas áreas metropolitanas.
4. Reforço da Governança Democrática
- Garantir liberdade de imprensa, diálogo político inclusivo e espaço real à oposição fortalecendo a confiança na institucionalidade.
5. Representação Política Democrática
- Realizar reformas na composição da CNE, assegurar eleições municipais e descentralizar o poder para regenerar a participação cidadã e regional.
A erosão da autoridade presidencial de João Lourenço não é um mero reflexo pessoal, mas sinaliza um processo político mais vasto — um abalo estrutural nos laços entre o Estado e a sociedade urbana. Resta saber se, até às eleições de 2027, haverá vontade política e capacidade executiva para restaurar a credibilidade perdida ou se os angolanos seguirão em busca de renovação com maior urgência.