“A liderança em Angola não está a fazer um bom trabalho, se compararmos com a Etiópia, Ruanda, Gana ou mesmo a Nigéria”, conclui o investigador Fernandes Wanda. Os países que mais transformam os seus produtos são os que vão “tirar maior proveito” da Zona de Comércio Livre Continental Africana.
Angola está entre os cinco países africanos com as exportações menos diversificadas, segundo o Índice de Theil, principal indicador para identificar as tendências de diversificação das exportações, de acordo com um documento de política elaborado pelas Nações Unidas, que aconselha os países a “identificar produtos e sectores estratégicos e aproveitar as oportunidades oferecidas pela Zona de Comércio Livre Continental Africana”.
Os cinco países com exportações menos diversificadas são o “Mali, Chade, Líbia, Angola e a Guiné-Bissau” e os que registaram “progressos notáveis nos seus esforços de diversificação” são o Ruanda, Burundi e Etiópia. Estes três fazem parte do top 5 das economias com mais melhorias em 2018-2019, relativamente às duas décadas anteriores, no índice que mede o pulso às exportações, no que toca à sua diversificação.
O Índice de Theil varia de menos de 4 a mais de 7. Quanto mais elevado for, mais desigual é a distribuição das exportações e menos diversificadas as exportações. “Globalmente, apenas 6 dos 54 países (Egipto, Quénia, Maurícias, Marrocos, África do Sul e Tunísia) obtiveram uma pontuação inferior a 4 no índice de Thiel, entre 2018 e 2019.
“Embora alguns países africanos tenham acrescentado novos produtos ao seu cabaz de exportações, não se registaram progressos suficientes na orientação do sector industrial para produtos manufacturados de elevado valor acrescentado, que são essenciais para um crescimento bem-sucedido e uma integração eficaz na economia mundial”, concluem os autores do documento, cuja elaboração contou com o contributo do angolano Gilberto António, um dos conselheiros do secretário-geral da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA).
Se olharmos para as exportações angolanas, vê-se precisamente isso. Segundo dados do Banco Nacional de Angola, no sector não petrolífero, o café, cimento, granito, mármore, madeira, pescado, sal e bebidas lideram as exportações angolanas, mas estes produtos, em termos de valor, representam muito pouco.
Dados do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola (CINVESTEC) “indicam que o valor dessas exportações (tirando o petróleo) apenas poderiam cobrir 10% das importações, o que é gravíssimo”, salienta Fernandes Wanda, notando que entre estes apenas o cimento e as bebidas podem ser considerados produtos processados, ou seja, industrializados.
“Angola precisa de acrescentar valor a estas matérias-primas. A recente medida que visa proibir a exportação de madeira visa fomentar a produção de mobília em Angola (um produto cujo valor de exportação é bem maior que a madeira como tal). Todavia, Angola precisa de melhorar as infraestruturas (criar clusters nos actuais parques industriais seria uma saída da) para que a mobília seja produzida de forma competitiva, bem como desenvolver a cadeia de valor)”, refere o investigador e docente da Universidade Agostinho Neto (UAN).
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