Especialistas defendem que Angola já deveria ter entrado em outros consórcios de cabos submarinos, como o ACE (o País fez parte do acordo inicial mas não avançou com o investimento) ou o Equiano, associado à Google e que tem servido de alternativa desde o início do mês de Agosto.
Os problemas técnicos que têm afectado desde 06 de Agosto os serviços de telecomunicações, especialmente no que diz respeito à internet, em todas as províncias de Angola (mas também na Namíbia e África do Sul) vieram demonstrar a necessidade de o País reforçar o investimento em novas conexões internacionais, evitando a dependência e aumentando as alternativas disponíveis para os operadores de telecomunicações nacionais. País está em modo de “contingência de telecomunicações”.
Neste momento, foram accionados todos os planos alternativos, preparados para actuar em caso de falha grave nas ligações principais. A avaria que afecta os cabos SAT-3 e WACS foi causada pelo deslizamento de terras no poderoso estuário do Rio Congo e só poderá ser reparada por equipas especializadas, que devem chegar ao local nos próximos dias.
Angola possui quatro ligações a cabos submarinos de tráfego internacional: SAT-3 e WACS (praticamente fora de serviço desde início do mês), SACS (operado exclusivamente pela Angola Cables entre Sangano e Fortaleza, no Brasil) e 2Africa, o maior cabo submarino do mundo, que chegou em Julho à zona de Cacuaco, em Luanda, mas que ainda não está operacional. Representou um investimento superior a 50 milhões USD e será operado pela Unitel, embora o País possua uma entidade empresarial de capitais públicos especialista na gestão de cabos submarinos.
Só que a grave situação financeira que afecta a Angola Cables (90% do capital está nas mãos da Angola Telecom (51%), Unitel (31%) e Sonangol com 9%) não tem permitido a realização de novos investimentos neste segmento.
A referida empresa contraiu uma dívida, garantida pelo Estado, com o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) no valor de 260 milhões USD, mas não tem conseguido amortizá-la dentro dos prazos estabelecidos, situação que tem valido consecutivas reservas dos auditores independentes nos relatórios financeiros anuais do BDA.
Mesmo assim, o cabo SACS, da Angola Cables, serviu os operadores namibianos nas primeiras horas após as avarias registadas no dia 06 de Agosto, como foi divulgado pela imprensa namibiana.
Também o Angosat não serve como alternativa aos cabos submarinos. “A alternativa aos cabos submarinos só pode ser mais ligações a cabos submarinos”, explica ao Expansão Abdul Santos, consultor e especialista em telecomunicações.
“Quantos mais cabos submarinos passarem por Angola, em diferentes pontos do País e diferentes direcções, maior é a fiabilidade das telecomunicações. Angola já deveria ter investido nos cabos submarinos ACE e Equiano para garantir maior fiabilidade na conectividade com o mundo. Mas ainda vamos a tempo”, sublinha Abdul Santos.
O cabo submarino “Africa Coast to Europe” ou ACE liga a Europa à costa oeste de África através de um sistema de fibra óptica de alta velocidade. O consórcio é composto por operadoras de telecomunicações e países membros, que investiram no projecto cerca de 700 milhões USD. O acordo foi assinado a 5 de Junho de 2010 e, no dia 15 de Dezembro de 2012, o cabo de 17.000 Km de extensão foi colocado em serviço pela primeira vez. Angola fez parte do consórcio inicial relativo ao ACE mas o investimento nunca foi concretizado.
Já em Setembro de 2022, a Google lançava finalmente o seu cabo submarino, o Equiano, avaliado em 1.000 milhões USD, que conecta a Europa Ocidental à África do Sul (Cidade do Cabo), sem passar por Angola.
Navio de reparação chegou à África do Sul
Na segunda-feira, 21, o navio “Léon Thévenin” chegou ao porto da Cidade do Cabo, África do Sul, após uma viagem de nove dias a partir de Mombaça, no Quénia, de acordo com a imprensa local. A embarcação tinha chegado ao Quénia no dia 6 de Agosto e só conseguiu iniciar a viagem de retorno no dia 12 de Agosto.
Expansão