Os empréstimos bancários a particulares e empresas têm estado a ficar mais caros com a subida da taxa de referência para o crédito interbancário. Como consequência, os custos associados também se tornam mais caros, dando margem para o aumento do malparado. A culpa é da escassez de liquidez e da queda do kwanza.
A taxa que serve de referência às taxas de juro do crédito a clientes, a LUIBOR, cresceu nos últimos meses, tendo atingido o valor mais alto em 14 meses, o que significa que o crédito está hoje mais caro. Na base está a seca de liquidez na banca que resultou, sobretudo, da depreciação do kwanza e do aperto da política monetária feito pelo Banco Nacional de Angola (BNA).
Em Janeiro, a LUIBOR overnight (a taxa de juros usada pelos bancos para remunerar empréstimos interbancários de curto prazo, feitos à noite, no chamado mercado overnight) fixou-se numa média de 9% quando no final de Junho já estava a 16,59%. Já as taxas a três e nove meses, que em Janeiro estavam em 11,75% e 12,60%, fixaram-se à volta dos 19,34% e 20,19% no final do primeiro semestre. Ou seja, as taxas quase duplicaram. Seria necessário regressar até Abril do ano passado para encontrar taxas tão altas como as praticadas actualmente.
A LUIBOR (acrónimo inglês de Taxa Interbancária de Oferta de Fundos do Mercado de Luanda) é a taxa que os bancos cobram quando emprestam dinheiro entre si, além de servir de referência para o crédito a clientes. Isto é, se a taxa básica serve de referência às taxas LUIBOR, estas servem de referência às taxas de juro de crédito a clientes. As taxas LUIBOR variam em função das maturidades, nomeadamente, de 1 dia (overnight) até 12 meses. Normalmente, quando alguém vai ao banco pedir crédito, a instituição bancária cobra-lhe uma taxa LUIBOR mais uma margem que depende do risco desse cliente.
O banco central não determina as taxas de juro dos bancos comerciais, mas pode influenciá-las, precisamente através da Taxa Básica (conhecida como a taxa BNA). No País, tendencialmente a mecânica das taxas de juro decorre da seguinte forma: quando o Comité de Política Monetária (CPM) do BNA aumenta a Taxa Básica, essa redução contagia a LUIBOR, que, por sua vez, faz crescer as taxas a que os bancos emprestam dinheiro aos clientes. No entanto, o crescimento da LUIBOR sinaliza que há pouca liquidez e que os bancos que a detêm estão a emprestar, no mercado interbancário, ou no secundário, a preços mais altos.
Assim, para o economista Mateus Maquiadi a falta de liquidez no mercado que reflecte uma política monetária contracionista é o principal motivo do crescimento das LUIBOR. Segundo o economista, neste momento, o BNA está a contrair liquidez por meio das operações de mercado aberto com acordo de recompra com taxas altas, e está, sobretudo, a usar as facilidades permanentes de cedência de liquidez a taxas também altas, o que por efeito matemático acaba puxando a LUIBOR para cima.
O mesmo pensamento tem o economista Wilson Chimoco, ao explicar que a LUIBOR reflecte o custo ou benefícios do dinheiro que os bancos têm de incorrer para ceder crédito no mercado monetário Interbancário, e que o encarecimento das taxas que se está a assistir reflecte, primeiro, o aumento da escassez de liquidez e, segundo, o aumento de risco de contrapartes percebida pelos bancos excedentários.
Maior custo de crédito e mais malparado
Segundo apurou o Expansão, muitas empresas que conseguiram crédito junto da banca com o pressuposto de taxas LUIBOR mais baixas, numa altura em que o câmbio estava à volta dos 506 Kz por dólar, hoje enfrentam grandes dificuldades para fazer avançar os seus projectos, porque as taxas de juros subiram muito e a taxa de câmbio disparou, o que obriga a desistirem ou a reajustarem os seus negócios.
Para Mateus Maquiadi, o aumento destas taxas tem um impacto “avassalador no custo de crédito (serviço da dívida) já que os custos do lado dos juros aumentaram imenso”, e também deverá assistir-se a uma redução do próprio volume de crédito.
Conforme explica, as restantes taxas do mercado monetário interbancário que servem de indexantes para grande parte dos créditos à economia, desde o crédito à habitação aos cartões de crédito, aumentaram em média 772 pontos base desde o início do ano, o que quer dizer que o custo dos créditos à economia aumentou no mínimo na mesma proporção e, eventualmente, isso já se deverá ter reflectido no nível do crédito, cujo stock contraiu para 4,6 biliões Kz (-11% ) em Junho.
Assim para Mateus Maquiadi, tanto as taxas de juros e a taxa de câmbio colocam pressão sobre o malparado, porque muitos investidores que contraíram crédito, têm de ir buscar matéria-prima e equipamentos ao exterior, que se tornaram mais caros com a depreciação da moeda, e também tem pelo facto de a economia estar a desacelerar. “Tudo isso coopera para um crescimento do crédito malparo”, afirma.
Expansão