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Crise cambial e falta de incentivos do Estado “matam” livrarias

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A importação de livros agrava os custos, tornando-os acessíveis a cada vez menos bolsas, e muitas livrarias não conseguem a receita suficiente para manter o negócio aberto. Vendedores viram-se para as plataformas sociais, mas também aqui o livro não está ao alcance de todas as bolsas.

A inflação, escassez de divisas, poucos hábitos de leitura e falta de incentivos por parte do Estado são razões apontadas por livreiros e escritores como causas para o encerramento de livrarias, em Luanda.

As poucas que conseguem manter as portas abertas lutam com dificuldades face à crescente perda de poder de compra. Os livros não são considerados bens essenciais e, na hora de cortar gastos, estão no topo da lista, o que leva livreiros e escritores a defender políticas “que façam chegar os livros a todos”.

Das livrarias que encerraram portas no centro da cidade estão a Lello, que vai reabrir no Maculusso, a Mensagem e a Chá de Caxinde, só para citar as mais antigas. Poucas vendas e altos custos para manter o negócio formam a “equação fatal” segundo proprietários e vendedores.

Matias Dumbo era gerente de uma livraria no largo Serpa Pinto, baixa de Luanda. Ao Expansão conta que a livraria teve de fechar, porque o patrão alegava que já não conseguia manter os custos da importação dos livros, a renda do espaço e os salários de seis trabalhadores.

Acima do salário mínimo

Apesar destas explicações, outras questões ainda se mantêm. Afinal porque as livrarias fecham? Será que as pessoas não compram livros? Não têm mesmo hábitos de leitura? Ou são os livros que estão muito caros?

O Expansão fez uma ronda por algumas livrarias da cidade, para avaliar os preços dos livros. Por exemplo, na livraria Irmãs Paulinas, o livro “Anatomia Humana do Coração e Vasos”, da escritora Esperança Pina, um dos mais procurados pelos estudantes de saúde, é vendido a 91.375 Kz. Este livro custa na loja online booki.pt 53,55 euros, o que equivale a 48.914 Kz à taxa do Banco Nacional de Angola de segunda-feira, dia 18. Contas feitas, o livro em Angola custa quase duas vezes mais.

Já na literatura nacional, o romance “Yaka”, de Pepetela, também dos mais procurados, custa 10 mil Kz, praticamente o mesmo valor cobrado pela wook.pt, onde tem o preço unitário de 12 euros.

Na literatura de cariz religioso, o livro “A nervura do real”, de Marilena Chaui, custa 42 mil Kz, ou seja três vezes mais do que o preço cobrado pela Amazon.

“Não posso gastar este valor que é superior ao meu salário, desculpa!”, reagia ao balcão Madalena Kiosa, que aufere um salário de 38 mil Kz como empregada doméstica.

Na prática, os livros mais procurados estão acima do salário mínimo nacional (32 mil Kz), que mal chega para assegurar as despesas com alimentação e casa, como atestam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), sobre a distribuição das despesas das famílias. O último inquérito revela que 60% dos gastos dos agregados familiares vai para alimentação. Se somarmos outras despesas, como habitação, água, luz e transporte, percebe-se que não sobra dinheiro para comprar livros.

Pouca gente lê

Para o escritor e docente universitário José Luís Mendonça, as livrarias entraram em falência porque os livros não vendem. “Não vendem porque pouca gente está a ler”, afirmou.

O facto de os livros não serem produzidos em Angola é outra das razões invocadas pelo também jornalista. “Havia uma fábrica de papel no Alto Catumbela, que foi destruída com a guerra, e que até hoje não foi reposta. Então, se o livro é importado, fica muito caro”, diz.

José Luís Mendonça atira-se ao Estado e ao próprio sistema de educação como os principais culpados da falência das livrarias. “O Estado porque não incentiva a produção de livros e próprio sistema de ensino que não tem estratégias de incentivo à leitura para os estudantes, uma vez que são eles, em princípio, os potenciais leitores de um País.

“Os 10 milhões de estudantes que temos em Angola é que podiam ler, mas os livros que existem são muito escassos para estes 10 milhões. Se estimarmos que um livro é lido por 100 estudantes, então precisaríamos de uma produção de 100 mil livros por ano”, argumentou. Mendonça referiu ainda que o sistema de ensino prejudica as próprias livrarias, porque são os professores e os pais que não ensinam os alunos ou os filhos a ler. “Se o professor não lê os alunos também não lêem. O mesmo acontece com os pais ou educadores em casa”, disse.

Expansão

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