As projecções para o mercado automóvel são bastante pessimistas já que os preços estão em alta devido à desvalorização cambial. As concessionárias queixam-se da retracção do negócio e muitas marcas e modelos deixaram de ser comercializados. Empresários temem pelo futuro.
Num mercado que estava a recuperar de crises passadas, as empresas concessionárias de carros novos foram obrigadas a subir os preços de venda de viaturas novas devido à crise cambial que afundou o valor do Kwanza.
Vários empresários do sector foram unânimes em afirmar que entre Junho e Julho, a desvalorização do Kwanza teve um impacto “brutal” nas vendas de veículos novos o que provocou uma redução significativa de clientes.
O mercado automóvel angolano já estava a registar uma considerável recuperação, desde Novembro do ano passado, volta assim a mergulhar na crise e as projecções de vendas para este ano são agora pessimistas.
João Tomás, director de operações da Angolauto, uma das concessionárias que mais importa e vende carros da marca Suzuki de diversos modelos, diz que a situação se agravou e em muitos casos as quebras de vendas chegam a rondar os 80%. Afirma que depois de seis meses de uma relativa recuperação do sector, a desvalorização voltou a retrair o negócio de carros em Angola. Quanto aos aumentos, João Tomás refere que em algumas marcas e modelos de viaturas mais procuradas, a Angolauto foi obrigada a ajustar os preços para cima entre 40% e 45%.
A justificação, prosseguiu, é a falta de produção a nível local e da falta de divisas para importar carros e peças sobressalentes para assistência pós-venda. A concretizarem-se as projecções de vendas para este ano, João Tomás diz que as empresas do sector automóvel terão um final de ano difícil, quebrando-se, desta forma, um ciclo de seis meses de recuperação, provocado sobretudo pela falta de divisas para honrar os compromissos com os fornecedores.
A mesma realidade é transversal a outras concessionárias. A marca Toyota, nos seus mais variados modelos, é uma das mais apreciadas pelos angolanos, sobretudo nos ligeiros de passageiros.
Só para se ter uma ideia, um Toyota Starlet, com quatro lugares, novo modelo, que em Junho custava 8 milhões Kz, hoje chega a custar 14 milhões Kz, um aumento de 75% em apenas um mês. A explicação não foge muito do que se passa com outras marcas.
O novo Toyata Urban, um SUV familiar, que em Junho estava a ser comercializado a 17 milhões Kz passou a ser vendido a 26 milhões Kz, enquanto, um Fortuner registou uma subida de 50% em menos de um mês. Isto porque Julho o valor de um Fortuner passou de 38 milhões Kz para 57 milhões.
Não se esperam uma grande recuperação do mercado. Ajunerjo dos Santos, da Daimic, revela que a crise cambial pode obrigar muitas empresas a fechar as portas e recorda: os números do desemprego poderão voltar a subir. O empresário diz que no mês de Julho apenas vendeu um carro novo depois de o número de clientes ter caído drasticamente. “As pessoas estão mais interessadas em comprar comida e as incertezas do mercado fazem com as pessoas deixem para depois a aquisição de uma viatura”, disse o empresário.
Angolanos apertam o cinto e gastam nos bens básicos
Os números falam por si, Ajunerjo dos Santos diz que a empresa tem marcas que no passado eram procuradas pelos angolanos, mas, nos últimos dias a situação da crise fez retrair o negócio.
O responsável lembra, no entanto, que muitas marcas não têm saída por causa dos preços. Santos acredita, entretanto, que se a crise cambial continuar, muitas empresas do sector automóvel deverão fechar, por isso, para atenuar as dificuldades apela a um apoio directo aos empresários e garantia de acesso a divisas para sustentar as importações e honrar os compromissos com os fornecedores. De recordar que em Angola entraram mais de 29 mil viaturas, entre novos e usados, em 2022, um aumento de 69,7%, face a igual período do ano anterior. Só no I trimestre deste ano entraram no País mais de 11 mil carros.
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