O negócio das telecomunicações representava no Sector Empresarial Público (SEP), até 2021, cerca de 112.036 milhões de kwanzas em Activos e 10.989 milhões de kwanzas em volume de negócio.
Até 2021, no Universo das Empresas Públicas (UEP) existia apenas uma empresa licenciada com o Título Global Unificado (TGU) no sector das Telecomunicações, trata-se da ANGOLA TELECOM.
Em 2022, com a entrada da UNITEL no UEP, o activo e o volume de negócio ascendeu significativamente, tendo-se situado em 1.020,9 mil milhões de kwanzas e 376.555 milhões de kwanzas, respectivamente.
De acordo com os dados do Instituto Angolano das Comunicações (INACOM), referentes a 2022, a UNITEL é a líder do mercado nos serviços de telefonia móvel com uma quota de 69,8% (representa cerca de 16,7 milhões de clientes, considerando o número total de 23,9 milhões de subscrições de telefonia móvel em Angola) e a Angola Telecom é a terceira maior operadora de telefonia fixa com uma quota de mercado de 17,2%. Deste modo, o sector das telecomunicações passa a ser dominado por empresas públicas.
Pela primeira vez, e por razões já conhecidas, em Agosto do ano em curso foram publicamente conhecidas as contas da UNITEL referentes aos anos económicos 2022 e 2021, no âmbito do procedimento anual de publicação das contas do SEP realizado pelo Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE). Este acontecimento possibilitou o acesso à informação que possibilita ter uma melhor caracterização da dimensão do mercado das telecomunicações na vertente económica e financeira.
PELAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DAS DUAS EMPRESAS, POR UM LADO, VERIFICA-SE QUE O ACTIVO TOTAL DA UNITEL SITUA-SE NOS 925.708 MILHÕES DE KWANZAS (9,7 VEZES SUPERIOR AO DA ANGOLA TELECOM), DO QUAL O ACTIVO DE CURTO PRAZO (CORRENTE) CORRESPONDE 43% (13% SUPERIOR AO DA ANGOLA TELECOM).POR OUTRO LADO, O TOTAL DO PASSIVO DA UNITEL ASCENDE A 428.037 MILHÕES DE KWANZAS (2,5 VEZES SUPERIOR AO DA ANGOLA TELECOM), DO QUAL OS COMPROMISSOS DE CURTO PRAZO (CORRENTE) CORRESPONDEM 95% (27% SUPERIOR AO DA ANGOLA TELECOM)
Este quadro revela que as duas empresas estão expostas a um risco significativo de liquidez. Em termos conceptuais, pode-se entender por Risco de Liquidez a indisponibilidade imediata de fundos para uma empresa fazer face aos compromissos de curto prazo/responsabilidades existentes.
Neste sentido, verifica-se que, em 2022, tanto a Unitel como a Angola Telecom apresentaram níveis de liquidez inferiores ao recomendável (em teoria, o rácio deve ser, idealmente, igual a 1), com rácios de liquidez geral de 0,98 (Unitel) e 0,25 (Angola Telecom), e de liquidez imediata de 0,60 (Unitel) e 0,08 (Angola Telecom).
Este risco também está sinalizado pelo valor do Fundo de Maneio, Working Capital e Dívida Líquida. Quanto ao fundo de maneio, no caso da Unitel passou de 66.364 milhões positivos, em 2021, para 7.654 milhões kwanzas negativos, em 2022, enquanto que na Angola Telecom manteve-se negativo, passou de 137.898 milhões, em 2021, para 86.965 milhões de kwanzas, em 2022. Em relação ao Working Capital, os valores foram negativos na ordem dos 166.412 milhões de kwanzas (Unitel) e 95.044 milhões de kwanzas (Angola Telecom). Por seu turno, a Dívida Líquida registada pelas empresas foi de 183.143 milhões de kwanzas (Unitel) e 161.094 milhões de kwanzas (Angola Telecom).
Pode-se percecionar que, por um lado, as duas empresas apresentam desequilíbrio financeiro e podem ficar vulneráveis a uma redução da actividade. Por outro lado, este risco de liquidez também é impactado pelo Risco de Crédito (relacionado com os créditos que resultam das vendas e serviços prestados a clientes), considerando que as provisões de cobrança de clientes representam 62% (Unitel) e 58% (Angola Telecom) das contas a receber de clientes. Portanto, é recomendável adoptar uma política de endividamento mais ajustada para cobertura do risco de liquidez.
NÃO OBSTANTE À ESSA SITUAÇÃO, É DE REALÇAR A PERFORMANCE ECONÓMICA DAS EMPRESAS, TRADUZIDA PELO CRESCIMENTO DO EBIT EM CERCA DE 170% NA ANGOLA TELECOM E DE 80% NA UNITEL, CONTRIBUINDO PARA UMA RENTABILIDADE ECONÓMICA DE 1,48% E 4,76%, RESPECTIVAMENTE.
Para efeitos de benchmarking, no período em análise, no mercado de telecomunicações português a VODAFONE (4,7 milhões de subscritores de telefonia móvel) registou uma rentabilidade económica de 7,5% enquanto que a da NOS (5,7 milhões de subscritores de telefonia móvel) obteve cerca de 7,2%.